Qual a visão islâmica sobre a Bíblia? Para os
muçulmanos o Alcorão confirma, iguala e supera toda escritura prévia. Para
eles, o Alcorão é a Palavra de Deus superando todas as revelações anteriores.
Por isso, o primeiro empenho deles é desacreditar a Bíblia, advertindo aos seus
a não compararem nem lerem porque isso os conduziria ao caminho errado.
Gilson Souto Maior Junior Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril Bauru-SP |
É muito interessante notar que o
Alcorão dá títulos maravilhosos às Escrituras judaico-cristãs: “o Livro de
Deus”, “a Palavra de Deus”, “luz e guia para o homem”, “decisão para todos os
assuntos”, “guia e misericórdia”, “o Livro lúcido”, “a iluminação”, “o
evangelho com sua direção e luz, confirmando a Lei precedente”, “guia e
advertência aos que temem a Deus”. Os cristãos são incentivados a ler as
próprias Escrituras para encontrar a revelação de Deus para eles (Alcorão
5:50). E o próprio Maomé numa ocasião é exortado a testar a veracidade da
própria mensagem pelo conteúdo das revelações divinas prévias feitas a judeus e
cristãos (Alcorão 10:94).
Ora, se eles têm uma visão assim da
Bíblia, por que anulam a Escritura? Porque esse louvor à Bíblia é um
engano. Baseados no seu conceito de revelação progressiva eles afirmam que o
Alcorão cumpriu e anulou as revelações menos completas, como a Bíblia. Eles
afirmam crer na santidade e veracidade da Bíblia, mas tudo isso é da boca para
fora.
E quais são as acusações que o islã faz
contra a Bíblia? Basicamente são duas. Em primeiro lugar, o texto da Escritura
teria sido alterado ou falsificado. Em segundo lugar, erros doutrinários teriam
se misturados ao ensino cristão como a crença na encarnação de Cristo, a
Trindade Divina e a doutrina do pecado original.
O mais interessante é notar que em
nenhum lugar do Alcorão se afirma realmente que a Bíblia foi alterada, embora
haja passagens em que Maomé acusa seus oponentes de distorcerem as palavras –
principalmente os judeus – de manipular e pronunciar de forma equivocada.
O Dr. Akbar Haqq, filho de um
importante convertido muçulmano da Índia e evangelista mundialmente famoso,
ressalta que nos primeiros anos do islã, quando a Bíblia não existia em árabe,
os muçulmanos não fizeram acusações de que a Bíblia estava corrompida. Mas
depois, quando cópias da Bíblia em árabe chegaram ao conhecimento deles e
começaram a comparar a Bíblia com o Alcorão, encontraram amplas discrepâncias
entre os relatos bíblicos e aquelas relatadas no Alcorão. Isso ocorreu entre 90
e 150 anos após a morte de Maomé (1980, p.38).
Como podemos responder as acusações do
islã? Uma evidência é a incoerência interna da própria visão islâmica
das Escrituras. Outra é que ela é contrária aos fatos. Os ensinamentos do
Alcorão dizem: 1) O Novo Testamento original é uma revelação de Deus
(5:46,67,69,71); 2) Jesus foi um profeta e os muçulmanos devem acreditar nas
suas palavras (4:171; 5:78); 3) Os cristãos eram obrigados a aceitar o Novo
Testamento do tempo de Maomé. Isso fica evidente quando diz: “Se estiveres em
dúvida sobre o que te revelamos, consulta os que têm o Livro desde antes de ti.
Teu Senhor te revelou a verdade. Não sejas um dos que duvidam” (Alcorão 10:94).
Abdul-Haqq observa o seguinte: “Os
doutores do islamismo ficam muito embaraçados com esse versículo, que remete o
profeta ao povo do Livro que resolveria suas dúvidas” (p.23). O mais
interessante é perceber que o Novo Testamento da época de Maomé é
substancialmente idêntico ao atual, já que o Novo Testamento atual é baseado em
manuscritos de vários séculos antes de Maomé. Pela lógica, segundo o Alcorão,
os muçulmanos deveriam aceitar a autenticidade da Bíblia atual, incluindo a
divindade de Cristo e da Trindade, algo que os muçulmanos rejeitam e criando um
dilema dentro da visão islâmica.
Outra incoerência na visão do Alcorão
sobre a Bíblia é que os muçulmanos afirmam que a Bíblia é “a palavra de Allah”
(2:75). Eles insistem em que as palavras de Deus não podem ser alteradas ou
mudadas. Ora, se as duas afirmações estão corretas, a conclusão natural é que a
Bíblia não foi mudada nem corrompida nem antes nem depois da época de Maomé.
Entretanto, o islã insiste em ensinar que a Bíblia foi corrompida, logo há
contradição.
O acadêmico islâmico Richard Bell
demonstrou que é irracional supor que judeus e cristãos conspirariam para mudar
o Antigo Testamento, pois “[...] seu [dos judeus] sentimento para com os
cristãos sempre foi hostil” (BELL, p. 164,165). Por que dois grupos hostis
(judeus e cristãos), que compartilhavam um Antigo Testamento comum,
conspirariam em mudá-lo para apoiar as visões de um inimigo comum, os
muçulmanos? Não faz sentido.
A rejeição do Novo Testamento por parte
dos muçulmanos é contrária à enorme evidência de manuscritos. Todos os
evangelhos são preservados nos Papiros Chester Beatty, copiados por
volta de 250 d.C. E todo o Novo Testamento existe no manuscrito Vaticano (B),
que data de cerca de 325-350 d.C. Além do mais, há mais de 5300 outros
manuscritos do Novo Testamento que datam do século II ao século XV, centenas
dos quais anteriores a Maomé, confirmando que o texto que temos é
substancialmente o mesmo escrito no século I.
Infelizmente os muçulmanos usam
críticos liberais do Novo Testamento para mostrar que o texto foi corrompido,
perdido e desatualizado. Todavia, o falecido teólogo liberal John A.T. Robinson
concluiu que o registro do Evangelho foi escrito ainda durante a vida dos
apóstolos, entre 40 e 60 d.C. Além disso, o uso de críticos liberais pelos
apologistas islâmicos mina a sua visão do Alcorão. Os mesmos críticos que negam
a autoria de Moisés para o Pentateuco também negaria que o Alcorão não veio de
Maomé. Logo, a rejeição da autenticidade do Novo Testamento é incoerente com
sua própria crença na inspiração do Alcorão.
O que fazer pelos muçulmanos? Primeiramente
ore por eles. Como disse Paulo sobre os gregos: “[...]Homens atenienses, em
tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos” (Atos 17:22). Eles temem a
Deus, mas não O ama, pois a visão sobre o Senhor é distorcida. Somente o
Espírito Santo pode abrir a mente e o coração. Em segundo lugar, apresente a
Jesus, mostrando que o próprio Alcorão atesta a pureza do caráter de Cristo.
Mostre nas Escrituras que Ele veio mostrar o perdão e o amor de Deus. E se
insistirem na crítica à Bíblia, mostre as evidências que a Bíblia é, de fato, a
Palavra de Deus.
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