30 de janeiro de 2015

O QUE É O ISLÃ? HÁ ALGO EM COMUM COM O CRISTIANISMO? (parte final)

Qual a visão islâmica sobre a Bíblia? Para os muçulmanos o Alcorão confirma, iguala e supera toda escritura prévia. Para eles, o Alcorão é a Palavra de Deus superando todas as revelações anteriores. Por isso, o primeiro empenho deles é desacreditar a Bíblia, advertindo aos seus a não compararem nem lerem porque isso os conduziria ao caminho errado.

Gilson Souto Maior Junior
Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril
Bauru-SP

É muito interessante notar que o Alcorão dá títulos maravilhosos às Escrituras judaico-cristãs: “o Livro de Deus”, “a Palavra de Deus”, “luz e guia para o homem”, “decisão para todos os assuntos”, “guia e misericórdia”, “o Livro lúcido”, “a iluminação”, “o evangelho com sua direção e luz, confirmando a Lei precedente”, “guia e advertência aos que temem a Deus”. Os cristãos são incentivados a ler as próprias Escrituras para encontrar a revelação de Deus para eles (Alcorão 5:50). E o próprio Maomé numa ocasião é exortado a testar a veracidade da própria mensagem pelo conteúdo das revelações divinas prévias feitas a judeus e cristãos (Alcorão 10:94).
Ora, se eles têm uma visão assim da Bíblia, por que anulam a Escritura? Porque esse louvor à Bíblia é um engano. Baseados no seu conceito de revelação progressiva eles afirmam que o Alcorão cumpriu e anulou as revelações menos completas, como a Bíblia. Eles afirmam crer na santidade e veracidade da Bíblia, mas tudo isso é da boca para fora.
E quais são as acusações que o islã faz contra a Bíblia? Basicamente são duas. Em primeiro lugar, o texto da Escritura teria sido alterado ou falsificado. Em segundo lugar, erros doutrinários teriam se misturados ao ensino cristão como a crença na encarnação de Cristo, a Trindade Divina e a doutrina do pecado original.
O mais interessante é notar que em nenhum lugar do Alcorão se afirma realmente que a Bíblia foi alterada, embora haja passagens em que Maomé acusa seus oponentes de distorcerem as palavras – principalmente os judeus – de manipular e pronunciar de forma equivocada.
O Dr. Akbar Haqq, filho de um importante convertido muçulmano da Índia e evangelista mundialmente famoso, ressalta que nos primeiros anos do islã, quando a Bíblia não existia em árabe, os muçulmanos não fizeram acusações de que a Bíblia estava corrompida. Mas depois, quando cópias da Bíblia em árabe chegaram ao conhecimento deles e começaram a comparar a Bíblia com o Alcorão, encontraram amplas discrepâncias entre os relatos bíblicos e aquelas relatadas no Alcorão. Isso ocorreu entre 90 e 150 anos após a morte de Maomé (1980, p.38).
Como podemos responder as acusações do islã? Uma evidência é a incoerência interna da própria visão islâmica das Escrituras. Outra é que ela é contrária aos fatos. Os ensinamentos do Alcorão dizem: 1) O Novo Testamento original é uma revelação de Deus (5:46,67,69,71); 2) Jesus foi um profeta e os muçulmanos devem acreditar nas suas palavras (4:171; 5:78); 3) Os cristãos eram obrigados a aceitar o Novo Testamento do tempo de Maomé. Isso fica evidente quando diz: “Se estiveres em dúvida sobre o que te revelamos, consulta os que têm o Livro desde antes de ti. Teu Senhor te revelou a verdade. Não sejas um dos que duvidam” (Alcorão 10:94).
Abdul-Haqq observa o seguinte: “Os doutores do islamismo ficam muito embaraçados com esse versículo, que remete o profeta ao povo do Livro que resolveria suas dúvidas” (p.23). O mais interessante é perceber que o Novo Testamento da época de Maomé é substancialmente idêntico ao atual, já que o Novo Testamento atual é baseado em manuscritos de vários séculos antes de Maomé. Pela lógica, segundo o Alcorão, os muçulmanos deveriam aceitar a autenticidade da Bíblia atual, incluindo a divindade de Cristo e da Trindade, algo que os muçulmanos rejeitam e criando um dilema dentro da visão islâmica.
Outra incoerência na visão do Alcorão sobre a Bíblia é que os muçulmanos afirmam que a Bíblia é “a palavra de Allah” (2:75). Eles insistem em que as palavras de Deus não podem ser alteradas ou mudadas. Ora, se as duas afirmações estão corretas, a conclusão natural é que a Bíblia não foi mudada nem corrompida nem antes nem depois da época de Maomé. Entretanto, o islã insiste em ensinar que a Bíblia foi corrompida, logo há contradição.
O acadêmico islâmico Richard Bell demonstrou que é irracional supor que judeus e cristãos conspirariam para mudar o Antigo Testamento, pois “[...] seu [dos judeus] sentimento para com os cristãos sempre foi hostil” (BELL, p. 164,165). Por que dois grupos hostis (judeus e cristãos), que compartilhavam um Antigo Testamento comum, conspirariam em mudá-lo para apoiar as visões de um inimigo comum, os muçulmanos? Não faz sentido.
A rejeição do Novo Testamento por parte dos muçulmanos é contrária à enorme evidência de manuscritos. Todos os evangelhos são preservados nos Papiros Chester Beatty, copiados por volta de 250 d.C. E todo o Novo Testamento existe no manuscrito Vaticano (B), que data de cerca de 325-350 d.C. Além do mais, há mais de 5300 outros manuscritos do Novo Testamento que datam do século II ao século XV, centenas dos quais anteriores a Maomé, confirmando que o texto que temos é substancialmente o mesmo escrito no século I.
Infelizmente os muçulmanos usam críticos liberais do Novo Testamento para mostrar que o texto foi corrompido, perdido e desatualizado. Todavia, o falecido teólogo liberal John A.T. Robinson concluiu que o registro do Evangelho foi escrito ainda durante a vida dos apóstolos, entre 40 e 60 d.C. Além disso, o uso de críticos liberais pelos apologistas islâmicos mina a sua visão do Alcorão. Os mesmos críticos que negam a autoria de Moisés para o Pentateuco também negaria que o Alcorão não veio de Maomé. Logo, a rejeição da autenticidade do Novo Testamento é incoerente com sua própria crença na inspiração do Alcorão.
O que fazer pelos muçulmanos? Primeiramente ore por eles. Como disse Paulo sobre os gregos: “[...]Homens atenienses, em tudo vejo que sois excepcionalmente religiosos” (Atos 17:22). Eles temem a Deus, mas não O ama, pois a visão sobre o Senhor é distorcida. Somente o Espírito Santo pode abrir a mente e o coração. Em segundo lugar, apresente a Jesus, mostrando que o próprio Alcorão atesta a pureza do caráter de Cristo. Mostre nas Escrituras que Ele veio mostrar o perdão e o amor de Deus. E se insistirem na crítica à Bíblia, mostre as evidências que a Bíblia é, de fato, a Palavra de Deus.


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