Pr. Gilson Souto Maior Junior Igreja Batista do Estoril Bauru - São Paulo |
No último sábado (18/01/2015) foi
executado o brasileiro Marco Archer na Indonésia pelo crime de tráfico de
drogas. O governo brasileiro tentou a reversão da pena, mas o pedido de
clemência foi negado. Feita a execução, o Brasil e muitos países criticaram o
governo indonésio pelo ato, assim como muitas pessoas contrárias à pena
capital. Mas, será que a consternação da presidente é justificável? Quem era
esse brasileiro e o que ele foi fazer naquele distante país da Ásia?
Quando olhamos com atenção vemos que o
brasileiro fuzilado não era um herói. O repórter Renan Antunes de Oliveira
(vencedor do prêmio ESSO, 2004), numa entrevista com Marco Archer em 2005 (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-perfil-de-marco-archer-por-um-jornalista-que-conversou-com-ele-4-dias-na-prisao/) revela outro
personagem: “Sou traficante, traficante e traficante, só traficante [...] Nunca
tive um emprego diferente na vida”, afirmou Archer. O carioca que passou 25
anos traficando drogas pelo mundo um dia foi pego e seu fim chegou. O
fuzilamento como punição para crimes é apoiado por 80% dos indonésios e o governo
do país se sente no direito de manter uma política rígida. Tornar Marco Archer
num “garoto de Ipanema” como herói é uma piada de mau gosto.
O tema da pena de morte é um assunto
polêmico e certamente faz arder paixões e sentimentos ambivalentes. Entretanto,
temos corredores da morte aqui nos hospitais públicos, onde milhares de pessoas
sofrem todos os dias com o “terrorismo do Estado” que continua a relegar ao
povo que paga impostos o direito à saúde. No Brasil, 150 pessoas morrem por dia
vítimas da violência; ou seja, 54 mil homicídios, mais que no Iraque, um país
em guerra e que se diz preocupado com a morte de 15.580 mortes intencionais, o
pior número em sete anos. A Indonésia tem 250 milhões de habitantes e 19 mil
homicídios por ano. Algum político brasileiro não fica consternado com esses
números? Onde está a indignação presidencial pelos brasileiros que sofrem e
morrem humilhados sem direito à saúde, educação e segurança?
Herói ou bandido? Marco Archer não era
um herói e sua morte, embora dolorida para a família, deve servir de alerta e
reflexão para os cidadãos desse país continental. Esse discurso que leis duras
não ajudam a combater o crime e a violência é uma falácia daqueles que ainda
imaginam o ser humano ter algo de bom dentro de si. A falta de educação, saúde
e segurança fomentam ainda mais o senso de frustração da população. Isso se
agrava com as revelações de corrupção no Governo, no Petrolão e nas distorções
macroeconômicas e políticas de nosso Brasil. Qual país sério tem 39 ministérios
e 32 partidos políticos?
O rei Davi disse acertadamente: “Quando
a corrupção é enaltecida entre os filhos dos homens, os ímpios andam livremente
por toda parte” (Salmo 12:8). Isso é exatamente o que estamos vivendo no
Brasil; um país em que o crime parece valer a pena, pois mesmo com a avalanche
de notícias de corrupção, a sensação é de um povo imobilizado que nada faz para
protestar e exigir mudanças significativas.
O profeta Isaías, falando contra à
liderança de Judá no século VIII a.C. faz uma dura acusação: “Os teus príncipes
são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e anda
atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva não chega
diante deles” (Isaías 1:23). Isso ocorre hoje nos palácios de Brasília, nos
governos estaduais, nas prefeituras: engano, suborno, corrupção, manipulação e
injustiça. Uma sociedade assim caminha para sua destruição, pois os líderes
passam a ser o exemplo negativo ao povo.
Creio que Marco Archer mereceu a pena
de morte. Não discuto se o país está certo ou errado, pois como diz a Bíblia:
“Porque os governantes não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas sim
para os que fazem o mal. Não queres temer a autoridade? Faze o bem e receberás
o louvor dela. Porque ela é serva de Deus para o teu bem. Mas, se fizeres o
mal, teme, pois não é sem razão que ela traz a espada, pois é serva de Deus e
agente de punição de ira contra quem pratica o mal” (Romanos 13:3,4). Paulo
escreveu isso à Igreja que estava na capital do império, mostrando que o Estado
tem a responsabilidade de punir o mal. Não é a toa que o Estado tem em sua mão
a espada, ou seja, a capacidade de punir com severidade.
A pena de morte seria a solução em
nosso país? No contexto em que temos hoje não! Nosso país precisa de reformas
éticas, morais, políticas e principalmente espirituais. Precisamos valorizar o
trabalho como a forma correta e digna de crescer, valorizar a educação e os
professores, restituindo a autoridade perdida, exigir uma melhor distribuição
de renda, a começar dos governantes e dos representantes do povo, o fim das
mordomias entre tantas outras coisas a serem feitas. A questão legal é apenas
uma das muitas mudanças que necessitamos.
O verdadeiro herói é o brasileiro que
precisa lidar com impostos altos, taxas de juros vergonhosos, salários
apertados, péssimos serviços públicos e outras mazelas. O herói é o aposentado
que lutou e contribuiu a vida toda para amargar seus últimos anos de vida na
corda bamba; herói é o professor que enfrenta todos os dias alunos mal educados,
que acham no centro do universo e que não desejam estudar, mas curtir na
escola. Herói é o médico que tenta salvar vidas em condições precárias nas
UPA’s. Portanto, no Brasil há muitos heróis, mas certamente Marco Archer não é
um deles.
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