Todo fim de ano é a mesma coisa: as
pessoas fazem um tipo de revisão da vida, observam seus erros, fazem promessas
e projetam seus sonhos para um futuro incerto. A mídia nos bombardeia com um
“Natal consumista” e com a falsa ideia de que o próximo ano será melhor. E
assim diria o “profeta apócrifo”: “Ê ô, vida de gado, povo marcado, povo feliz”
(RAMALHO, Zé, 1980, CBS). E por que uso essa expressão? Porque vivemos num país
onde a parcela de famílias com dívidas,
como cartão de crédito, crédito pessoal, carnês e financiamentos, é superior às
registradas em julho deste ano (63%) e em agosto do ano passado (63,1%),
segundo a Agência Brasil (26/08/2014). E agora temos juros
estratosféricos de 11,75% ao ano, embora saibamos que é muito mais que isso.
*Pr. Gilson Souto Maior Junior |
O que mais me
assusta é pensar que, se em termos macroestruturais seis em cada dez
brasileiros estão com a “corda no pescoço”, numa perspectiva microestrutural
isso tende a se repetir dentro da Igreja. Além de ser preocupante, pois as
dívidas sugam as forças emocionais e físicas, a obra de Deus tende a sofrer com
cristãos angustiados por causa dessa situação. E o que mais me irrita é que a
mesma ideia lançada pelos meios de comunicação para um consumismo desenfreado é
repetido por pastores e líderes “evangélicos” que defendem a maldita “teologia
da prosperidade”. Ô vida de gado!
Qual a saída bíblica
para essa situação? É exercer a boa mordomia do tempo e do dinheiro. Sim, esses
dois aspectos da vida causam muito estresse e ansiedade em nosso coração;
entretanto, se não tivermos a visão correta dessas coisas com o objetivo de
alcançar uma vida piedosa, fracassaremos terrivelmente em nossa missão.
Mordomia significa usar bem as coisas e o tempo que Deus me dá para a glória
Dele mesmo; É ver-me como um servo responsável pelo tempo, pela família, pelos
filhos, pelo cônjuge, pelo trabalho, pelo estudo e apresentar a Ele tudo como
algo agradável.
Jesus disse em Sua
oração: “Eu te glorifiquei na terra, completando a obra da qual me encarregaste”
(João 17:4). Esse é o cerne da boa mordomia, viver para a glória de Deus. E tem
mais um detalhe: “Portanto, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa,
fazei tudo para a glória de Deus” (1Coríntios
10:31). Ou seja, não há nenhuma área da nossa vida que Jesus não possa dizer:
“É meu!”. Portanto, tudo que faço deve estar revestido com o intuito de trazer
a Glória Daquele que é Dono absoluto de tudo. Por isso quero refletir sobre
dois aspectos da vida que causam estresse em nós hoje: Tempo e Dinheiro.
Tanto o tempo quanto
o dinheiro precisam de disciplina. Essa é uma palavra da qual não gostamos, pois
pensamos nela apenas como a vara que castiga. Entretanto, disciplina tem a ver
com “submissão às regras, autocontrole”; sempre essa palavra me aponta para um
atleta de alto nível, a alguém que deixa certas coisas (boas ou ruins) para
alcançar um objetivo maior. Sem disciplina diária não caminhamos na vida
espiritual, pois precisaremos sempre abrir mão de certas coisas – e muitas
delas são boas – para alcançar coisas melhores.
A Bíblia diz que
devemos ser prudentes quanto ao tempo, andando não como insensatos,
aproveitando cada oportunidade, pois os dias são maus (Efésios 5:15,16). Isso
nos lembra de que não temos a eternidade aqui, mas que nosso tempo é limitado e
que precisamos vivê-lo com os olhos na eternidade (cf. Colossenses 3:2). Sim, o
tempo é escasso e valioso, pois a cada dia estamos mais próximos da sepultura
(cf. Tiago 4:14). Isso nos mostra que o tempo está passando e que aquilo que
está adiante de nós é totalmente incerto (cf. 1João 2:17; Provérbios 27:1).
Perder tempo é perder algo que nunca poderemos recuperar. Portanto, é um engano
quando as pessoas afirmam: “Vou recuperar o tempo perdido”; isso é uma falácia!
A Bíblia também nos
chama a atenção quanto algumas verdades sobre o dinheiro. Segundo a Bíblia,
tudo pertence a Deus (cf. Êxodo 19:5; Jó 41:11; Salmo 24:1); isso significa que
somos nada mais, nada menos que administradores de Deus. Assim como José foi
colocado como “[...] mordomo da sua casa e entregou em suas mãos tudo o que possuía” (Gênesis 39:4), assim também Deus nos dá todas as
coisas para delas cuidarmos. Isso implica que a casa ou apartamento que
moramos, as árvores que vemos na rua, o jardim que plantamos, o carro que
dirigimos, a roupa que vestimos e aquelas que estão no armário, os livros, CD’s
e DVD’s que estão em nossas estantes, tudo pertence a Deus. Até o dinheiro que
temos na carteira ou no banco pertence a Deus: “A prata e o ouro
pertencem a mim, diz o SENHOR dos Exércitos”
(Ageu 2:8).
A grande questão
aqui é a seguinte: O que temos feito com os bens
e recursos que Deus tem nos dado gratuitamente? Se somos bons mordomos vamos aplicar o dinheiro de
Deus em coisas que trarão Sua glória e alegria; entretanto, se usamos o
dinheiro de Deus de maneira desonesta, comprando coisas para nosso prazer
egoísta, para mostrar aos outros que temos isso ou aquilo, com o intuito de
mostrar o que não somos, então saibamos desde já que daremos conta a Deus disso
também.
Isso é muito sério,
pois se estamos endividados e esgotados isso significa que não estamos usando
corretamente os recursos de Deus. Quando os cristãos dizem que não tem tempo
para servir a Deus isso significa que eles estão invertendo as prioridades,
pois certamente tudo aquilo que envolvem seus interesses pessoais estão no topo
da lista. Quando cristãos deixam de investir no Reino de Deus, isso significa
que suas prioridades estão invertidas; são capazes de comprar uma televisão LED
3D por R$ 1.500,00 e dar para missões R$ 30,00 e passar o ano todo sem dar o
dízimo para o sustento da casa de Deus. Ora, se nossas prioridades estão
invertidas, como podemos esperar bênçãos de Deus?
A boa mordomia
começa no reconhecimento de que não temos nada e tudo que temos é recebido
segundo a graça de Deus. Que possamos dizer como Davi: “Ó SENHOR, tua é a
grandeza, o poder, a glória, a vitória e a majestade, porque tudo quanto há no
céu e na terra é teu. Ó SENHOR, o reino é teu, e tu te exaltaste como chefe
sobre todos” (1Coríntios 29:11).
Tenha uma boa semana em Cristo
Fraternalmente, Pr. Gilson Jr.
Igreja Batista do Estoril - Bauru -SP
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