A vida cristã nem sempre é feita de
bons momentos. É inegável que o Senhor Jesus é maravilhoso, bondoso e fiel, que
Sua graça nos sustenta e nos ampara. Todavia, são nos vales que vemos a
grandeza de Seu amor. O que é um vale? É uma depressão do terreno entre
dois espigões adjacentes, uma várzea ou planície à beira de um rio. Na Judéia
há vários vales: o vale do Jordão que Ló escolheu viver (Gênesis 13:10,11) e
que apesar de ser o melhor lugar tornou-se a destruição dele e de sua família.
No vale de Gerar onde Isaque e seus servos encontraram um veio de água e
cavaram poços, foi ali que ele experimentou a dura tarefa de trabalhar e outros
literalmente o expulsarem após o sucesso (Gênesis 26:17-19). O vale de Escol
foi chamado assim porque os espias colheram grandes cachos de uvas (Números
13:23,24); no entanto, mesmo vendo a bênção de Deus, a maioria dos espias
manteve uma postura incrédula.
Pr. Gilson Souto Maior Junior Igreja Batista do Estoril Bauru - São Paulo |
Certamente é muito mais fácil caminhar
nas campinas verdejantes onde tudo parece estar à luz do sol e o horizonte é
vislumbrado com maior clareza. Nos vales encontramo-nos cercados por montanhas
escarpadas e as sombras dão um tom sombrio à paisagem. Davi disse: “Quando
eu tiver de andar pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque
tu estás comigo [...]” (Salmo 23:4). Que descrição é essa do
salmista? Davi fala aqui de tsalmawet ou trevas
profundas. As traduções combinam sombras (tsel) com morte (mût)
e por isso nossas Bíblias trazem o vale da sombra da morte. No entanto, essa
palavra é a mais forte para descrever as trevas em hebraico.
As trevas aqui podem ser interpretadas
de diversas formas. As trevas podem ser a morte – como é comumente traduzido –
mas também pode representar a desordem (Gênesis 1:2), as dificuldades pessoais
(Salmo 18:28), a solidão (Salmo 88:18), os perigos ocultos (Salmo 91:6), enfim,
podemos aplicar a todas as situações adversas e que nos tentem afastar de Deus
como sendo trevas perigosas. Mas até nessas trevas Deus caminha perfeitamente e
nos protege amplamente. Essa era a confiança de Davi.
No Salmo 84 lemos os filhos de Corá
cantando: “Passando pelo vale de Baca, fazem dele um manancial; a primeira
chuva o cobre de bênçãos” (Salmo 84:6). A expressão “Baca” significa
lágrimas e era um vale que ficava à caminho de Jerusalém. É interessante que
estamos também caminhando para Jerusalém, não essa cidade terrena, mas a do
alto que é livre (cf. Gálatas 4:26), a cidade celestial onde há uma multidão de
anjos em alegria e louvor constantes (cf. Hebreus 12:22). Sim, antes de chegar
lá onde a coroa da vida nos aguarda e Cristo nos espera de braços abertos,
temos que passar pelo vale de Baca.
É interessante notar que, embora
tenhamos que passar pelo vale árido dessa vida, o Senhor nos sustenta com Sua
graça. Como é possível ter mananciais no meio do deserto? É simples, o cristão
que aprendeu a confiar no Senhor sabe que esse deserto tem início, meio e fim.
Ele não será algo que durará para sempre, pois sua verdadeira alegria está no
final da caminhada. Só é possível tornar uma caminhada difícil em algo
agradável quando sabemos de onde vem à fonte de alegria de nossa vida. Por
isso, “Passando pelo vale de Baca, fazem dele um manancial [...]”.
Nos vales de lágrimas Deus dá fontes de salvação e refrigério para aqueles que
ousam confiar no Seu amor.
Mas o salmista diz outra coisa:
“[...] a primeira chuva o cobre de bênçãos”. No meio daquele vale
desértico Deus era capaz de enviar chuva para dar alento aos peregrinos. E não
é assim que Deus age até hoje? Quantas vezes estamos em aflição e dor, o sol
nos castiga e o calor parece tirar nossas forças; a caminhada torna-se
fatigante e pensamos: “Vou desistir”. Olhamos para os lados e vemos deserto,
rochas, montanhas altas e sombras angustiantes; mas de repente Deus envia
aquela chuva que traz alento e novo ânimo.
Como é bom saber que está no Senhor o
ânimo que precisamos para caminhar nesse mundo. Sim, estamos numa viagem para a
nova Jerusalém, uma caminhada num terreno perigoso e difícil, com dificuldades
e privação. Entretanto, quando nossos olhos estão na linha de chegada, Deus nos
faz ver no deserto mananciais de crescimento e maturidade; Ele nos cobre com
Sua chuva abençoadora e nos faz caminhar além. O objetivo dos peregrinos era
chegar a Jerusalém e adorar a Deus em Sião (84:7); nosso objetivo como peregrinos
que somos é chegar a Jerusalém celestial e adorar Aquele que morreu por nós.
Quando o crente perde essa visão da vida acaba se perdendo no vale, em
frustração, dor e sofrimento.
Por isso irmão, não se angustie diante
do vale, pois ali Deus têm mananciais e chuva para dar. Não olhe para os lados,
para o deserto ou para as montanhas que lhe cercam. Olhe para o final da
estrada. Ali você verá o Redentor de braços abertos para recebê-lo com a coroa
da vida. Não faça morada no vale, pois não somos desse lugar; veja-se como um
peregrino que caminha para casa, para adorar a Deus em Sião. Somente assim
veremos esse mundo e as circunstâncias adversas com outros olhos.
Pr. Gilson Jr.
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