2 de fevereiro de 2018

Nunca aprendi a nadar

Antigo Açude, anos 50, quase sem nenhuma urbanização
O meu Açude Velho sempre me chamou a atenção. Um espelho d’água belíssimo, que marcou e continua marcando a vida de uma cidade, do seu povo, e de mim. Desde criança, que sua imagem me encanta.
Nos anos 40, ainda com ligação à lagoa dos Canários
Aliás, o velho açude, sempre mexeu com os meus olhos e com a minha imaginação. Foi e continua sendo responsável por duas coisas que ainda fustigam a minha mente. Uma, porque, mesmo tendo vivido tantos anos bem pertinho dele, acompanhado as brincadeiras da meninada mergulhando em suas águas, nunca aprendi a nadar. Ficava sempre à distância, vendo a algazarra da molecada. Minha mãe sempre repetia: “Não quero vê-lo perto do açude, pois é ‘perigoso!” É claro que eu atendia, e, obedecia.
Hoje, com os seus belos prédios
O outro motivo que me faz nunca esquecer o meu bonito Açude Velho foi a morte de um dos grandes amigos de infância, o colega de escola, o vizinho Clóvis, um dos meninos de Dona Zefinha e Seu Nanô, amigos da minha família.
Ele sabia nadar! Ninguém sabe o que aconteceu. O amigo saiu para ir até a barbearia do pai e não mais voltou para casa. Digo, voltou, mas morto!   “VOCÊ QUER IR COMIGO ATÉ A BARBEARIA DO MEU PAI?” Foi o que me perguntou Clóvis, ao passar em nossa residência, antes de mergulhar no açude e nunca mais voltar. Eu estava na sala, ao lado de mamãe. Não aceitei, pois esperava papai para o jantar. Mamãe também não iria deixar.
Às seis horas em ponto, todos estavam ao redor da mesa. Diferente de hoje, não é verdade? É, eu não fui! Meu amigo foi., sozinho... e morreu!
“Mamãe, eu deveria ter ido, pois, certamente, meu amigo não teria morrido” – disse. Mamãe Sophia prontamente me respondeu. “Filho, você não sabe nadar”. As lágrimas ainda hoje chegam aos meus olhos quando lembro aquele dia.
O sol repousando nas águas do Velho Açude, ao
entardecer

O Açude Velho continua lindo! Continua sendo um cartão postal da cidade. Diferentemente daquele tempo, quando a claridade era apenas pelos reflexos das noites de lua em suas águas, das poucas luzes dos postes ao seu redor, hoje, o bem urbanizado açude, com bonita iluminação e suntuosos edifícios residenciais, continua mexendo com os meus pensamentos. Ainda é parte integrante da minha vida. Eu só não me perdoo é o fato de nunca ter aprendido a nadar! 

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