27 de setembro de 2015

QUEM ESCREVEU A BÍBLIA E POR QUE DEVERIA CRER NELA? (parte 2)

Retomando nossa reflexão, na semana passada vimos que o texto hebraico do Antigo Testamento foi devidamente preservado pelos massoretas, suplantando os antigos escribas judeus, pois eles acrescentaram a vocalização (sistema de pontos e traços) e os sinais gráficos que auxiliam a pronúncia do texto consonantal recebido dos soferim, com base naMassorá (tradição) que haviam recebido. Duas escolas ou centros de referência massorética, cada uma bastante independente uma da outra, tomaram a frente do trabalho: a babilônica (Escola oriental) e a palestinense (Escola ocidental).


Gilson Souto Maior JuniorPastor Sênior
 da Igreja Batista do Estoril
Bauru-SP
Os massoretas orientais estavam localizados na Babilônia, nas regiões de Nahardea, Sura e Pumbedita (todas no atual Iraque). As escolas rabínicas dessas três cidades foram importantes na formação do Talmude Babilônico e a tradição massorética expandiu para além da Babilônia, sendo utilizado em manuscritos produzidos em outros países orientais como Pérsia, Arábia e Iêmen. Atualmente são conhecidos 120 manuscritos hebraicos de tradição babilônica que pertencem a bibliotecas universitárias em Cambrigde, Londres, Oxford, Paris, Berlim, Frankfurt, Nova York e São Petesburgo. Entre os manuscritos mais importantes estão o Códice P (Kb 13), que contém o texto dos Profetas Posteriores (Isaías, Jeremias, Ezequeil e o Rolo dos 12 profetas [Oséias a Malaquias]). Muitos manuscritos babilônicos foram descobertos na Guenizá (depósito) da sinagoga de Ben Ezra do Cairo em 1890 e que datavam do século IX a XII d.C.
Os massoretas ocidentais estavam localizados na Palestina e em Tiberíades. Esse grupo esteve ativo entre os séculos VIII e IX na Palestina, enquanto que em Tiberíades eles foram ativos entre os séculos IX e X. A tradição palestina tem poucos manuscritos, enquanto que a tradição de Tiberíades possui muitos manuscritos. O grupo de Tiberíades tinha como objetivo registrar meticulosamente a pronúncia do hebraico de maneira mais fiel possível nos fonemas vocálicos. Com isso eles criaram um sistema detalhado e consistente na pronúncia e recitação do texto da Bíblia Hebraica. A meticulosa atenção dada ao Alcorão pelo islamismo influenciou os massoretas, assim como o caraísmo (Seguidores das Escrituras) que dava ênfase absoluta ao texto da Bíblia Hebraica. Com o passar do tempo à tradição de Tiberíades passou a ser o padrão para o texto atual da Bíblia Hebraica em todas as edições impressas por ser considerado o método mais completo, uniforme, engenhoso, coerente, perfeito, rico em detalhes normativos de utilização dos sinais vocálicos, tendo a aprovação de vários gramáticos judeus do período medieval. O grupo de Tiberíades era formado por duas famílias e os nomes mais importantes desse período foram Moisés ben Asher (com seu filho Aarão) e Moisés ben Naftali, no final dos séculos IX e X d.C. O texto de Moisés ben Asher é o texto padrão da Bíblia hebraica atual, conforme melhor representado pelo Códice Leningrado B19A(L) e o Códice Alepo.
Fica claro que a credibilidade do Antigo Testamento Hebraico é indiscutível. Ao comparar as variações de manuscritos do texto hebraico com as da literatura pré-cristã (como por exemplo, o Livro dos Mortos do antigo Egito), Archer (1998) afirma que surpreende o fato de que o texto hebraico não tenha o fenômeno das discrepâncias e da alteração de manuscritos presentes em literaturas da mesma época. Segundo Archer (1998), as duas cópias do profeta Isaías achadas na gruta 1 de Qumrã, descobertas em 1947 eram mil anos mais antigas que o manuscrito que tínhamos até então (980 d.C.). Quando comparadas foi constatado que eram idênticos, palavra por palavra, à nossa Bíblia Hebraica, em mais de 95% do texto. As variações, em 5%, consistem nomeadamente de óbvios erros de pena e variações de ortografia e que não apontam para nenhuma diferença doutrinária, não afetando a mensagem revelada (1998, p.21,22).
Na arqueologia, quanto mais antigo o manuscrito, mais próximo dos originais ele está. Os Manuscritos do Mar Morto, diferente do que muitos imaginavam, apenas endossou a confiabilidade do texto bíblico do Antigo Testamento. O que aconteceu em 1947 com as descobertas em onze grutas da região do deserto da Judéia dos manuscritos do Mar Morto (Hirbet Qumran) apenas confirmam a veracidade da Bíblia. Estes manuscritos incluem textos bíblicos e não bíblicos datados num período entre a metade do século III a.C. e o início do século II d.C.
As descobertas no deserto da Judéia deram um grande impulso ao campo da crítica bíblica, principalmente à crítica textual. Esses manuscritos revelaram vários tipos textuais da Bíblia Hebraica existentes no período do Segundo Templo. O texto hebraico que deu origem à Septuaginta, o tipo textual do Pentateuco Samaritano, assim como o Texto Massorético (TM), estão todos representados no material encontrado. Outra contribuição fundamental foi a melhor compreensão do processo de transmissão do texto bíblico. Durante dezoito anos (1947-1965) os arqueólogos encontraram vários manuscritos de todos os livros da Bíblia Hebraica, exceto o livro de Ester. Foram encontrados cerca de 900 manuscritos, dos quais mais de 200 são de textos bíblicos. Vários textos não bíblicos foram encontrados e que nos ajudam a compreender a teologia e o pensamento do período. Além desses textos também foram encontrados comentários de livros bíblicos e traduções aramaicas (os targuns).
Portanto, quando alguém sugere que o texto do Antigo Testamento foi modificado para atender certos interesses da religião, diante das evidências fica claro que isso não é verdade. Se algum texto do Antigo Testamento tivesse sido modificado, os estudiosos e acadêmicos teriam percebido e revelado isso ao mundo. Sim, podemos confiar no Antigo Testamento que temos nas Bíblias atuais. Como nos diz o próprio Deus: “Então o SENHOR me disse: Viste bem, porque estou atento para que a minha palavra se cumpra” (Jeremias 1:12). Continuamos na próxima semana


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