18 de outubro de 2015

SERÁ QUE JESUS EXISTIU MESMO? (parte 02)




Gilson Souto Maior Junior, Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril
                                                    E-mail: gilsonsmjr@hotmail.com

Semana passada começamos uma análise sobre a existência de Jesus. Flávio Josefo descreveu o Senhor Jesus da seguinte forma: “Nesta época viveu Jesus, um homem excepcional, pois realizava coisas prodigiosas [...] Quando, denunciado pelos nossos chefes religiosos, Pilatos o condenou à cruz, aqueles que a ele se haviam afeiçoado desde o princípio não deixaram de amá-lo, porque lhes aparecera ao terceiro dia, novamente vivo, como os divinos profetas o haviam declarado [...] Mesmo em nossos dias, não se extinguiu a linhagem dos que por causa dele se chamam cristãos” (Antiguidades 28:33).
Muitos críticos têm questionado este texto de Josefo, por ter sido ele um judeu de linhagem sacerdotal. Até o apologista cristão Orígenes (185-254 d.C.) disse que Josefo não acreditava que Jesus fosse o Messias. Entretanto, o documento tem uma boa evidência textual na menção de Jesus e não há nenhuma indicação que o estilo fosse diferente do que Josefo escrevesse. Uma versão em árabe do texto de Josefo contém a seguinte informação: “Nessa época havia um homem sábio chamado Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtude. Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. E aqueles que haviam sido seus discípulos não deixaram de segui-lo. Eles relatam que ele lhes havia aparecido três dias depois da crucificação e que ele estava vivo [...] talvez ele fosse o Messias, sobre o qual os profetas relatavam maravilhas” (GEISLER, 2002, p.449).
Talo, escritor samaritano, por volta do ano 52 d.C. fez uma citação sobre Jesus. Nenhuma de suas obras sobreviveu, mas algumas citações fragmentadas foram preservadas em outros autores. Um desses é Júlio Africano (160-240 d.C.), que, por volta de 221 d.C., cita Talo numa discussão sobre a escuridão que seguiu a crucificação de Cristo: “No mundo inteiro caiu uma escuridão tenebrosa; as rochas foram partidas por um terremoto, e muitos lugares na Judéia e outros distritos foram derrubados. Essa escuridão, Talo, no terceiro dos livros que escreveu sobre a história, explica essa escuridão como um eclipse do Sol – o que me parece ilógico”. Júlio identifica a escuridão que Talo considerou um eclipse solar como a escuridão na crucificação descrita em Lucas 23:44,45.
Outros documentos extrabíblicos importantes aparecem em documentos oficiais do governo romano. Um destes foi Plínio, o Jovem (61/62-114 d.C.), autor e administrador romano que numa carta ao imperador Trajano, por volta de 112 d.C., descreve as práticas dos primeiros cristãos: “[...] o costume de se reunir antes do amanhecer num certo dia, quando então cantavam responsivamente os versos de um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns aos outros a não cometer maldade alguma, não defraudar, não roubar, não adulterar, nunca mentir, e a não negar a fé quando fossem instados a fazê-lo; depois disso tinham o costume de separar-se e se reunir novamente para compartilhar a comida – comida do tipo comum e inocente” (Epístolas 10.96). Esta passagem confirma várias referências do Novo Testamento, entre elas que os cristãos adoravam a Jesus como Deus, que as práticas revelam uma ética forte; também uma referência à festa do Amor e a Ceia do Senhor. Na mesma carta, Plínio chama o ensinamento de Jesus e seus seguidores de “superstição excessiva” e “superstição contagiosa”, que pode se referir à crença e à proclamação cristã da ressurreição de Jesus.
Outra fonte é o Imperador Trajano (53-117 d.C.), que em resposta à carta de Plínio, dá instruções para punir os cristãos: “Nenhuma busca para encontrar essas pessoas deve ser feita; quando eles forem denunciados e condenados, devem ser punidos; mas com a restrição de que, quando a pessoa negar ser um cristão, e provar que não é (ou seja, adorando nossos deuses), ela será perdoada por arrependimento, apesar de ter incorrido em suspeita anteriormente” (Epístolas 10.97).
Outra fonte de testemunho sobre Jesus é o Talmude, que foi compilado entre 70 e 200 d.C., durante o chamado período Tanaíta, e que nos traz informações preciosas sobre o Jesus histórico. O texto mais significativo é o tratado da Mishná: “Na véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu e antes disso, durante quarenta dias o arauto proclamou que [ele] seria apedrejado ‘por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo desviar-se. Quem quer que saiba algo em sua defesa venha e interceda por ele’. Mas ninguém veio em sua defesa e eles o penduraram na véspera da Páscoa” (Talmude Babilônico, Sanhedrin. 43a). Essa passagem confirma a crucificação, à época do evento na véspera da Páscoa e a acusação de feitiçaria e apostasia. Esse texto nos informa sobre a proclamação que foi enviada antes da morte de Jesus. Por várias vezes tentaram apedrejá-lo por blasfêmia ou até mesmo prendê-lo, mas não conseguiram (cf. João 8:58,59; 10:31-33,39).
Outras fontes, além das fontes judaicas e romanas, podem ser encontradas. Por exemplo, Luciano de Samosata (125-180 d.C.), autor grego do século II. Suas obras são marcadas pelo sarcasmo ao cristianismo: “Os cristãos, como sabes, adoram um homem até hoje – o personagem distinto que introduziu seus rituais insólitos, e foi crucificado por isso [...] Essas criaturas mal-orientadas começam com a convicção geral de que são imortais, o que explica o desdém pela morte e a devoção voluntária que são tão comuns entre eles; e ainda foi incutido neles pelo seu legislador original que são todos irmãos, desde o momento em que se convertem, e negam os deuses da Grécia, e adoram o sábio crucificado, e vivem segundo suas leis. Tudo isso adotam como fé, e como resultado desprezam todos os bens mundanos, considerando-os simplesmente como propriedade comum” (Morte do peregrino, 11-3). Novamente vemos, num documento não cristão, fala de Jesus adorado como Deus, que Ele introduziu ensinamentos e que foi crucificado por seus ensinamentos, como testifica o Novo Testamento.
Portanto, aqueles que criticam a existência de Jesus o fazem por total ignorância, pois a história apresenta evidências fundamentais da veracidade de Jesus. Semana que vem continuamos.


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