Gilson Souto Maior Junior, Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril |
Semana passada
começamos uma análise sobre a existência de Jesus. Flávio Josefo descreveu o
Senhor Jesus da seguinte forma: “Nesta época viveu Jesus, um homem
excepcional, pois realizava coisas prodigiosas [...] Quando, denunciado pelos
nossos chefes religiosos, Pilatos o condenou à cruz, aqueles que a ele se
haviam afeiçoado desde o princípio não deixaram de amá-lo, porque lhes
aparecera ao terceiro dia, novamente vivo, como os divinos profetas o haviam
declarado [...] Mesmo em nossos dias, não se extinguiu a linhagem dos que por
causa dele se chamam cristãos” (Antiguidades 28:33).
Muitos críticos têm
questionado este texto de Josefo, por ter sido ele um judeu de linhagem
sacerdotal. Até o apologista cristão Orígenes (185-254 d.C.) disse que Josefo
não acreditava que Jesus fosse o Messias. Entretanto, o documento tem uma boa
evidência textual na menção de Jesus e não há nenhuma indicação que o estilo
fosse diferente do que Josefo escrevesse. Uma versão em árabe do texto de
Josefo contém a seguinte informação: “Nessa época havia um homem sábio chamado
Jesus. Seu comportamento era bom, e sabe-se que era uma pessoa de virtude.
Muitos dentre os judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos
condenou-o à crucificação e à morte. E aqueles que haviam sido seus discípulos
não deixaram de segui-lo. Eles relatam que ele lhes havia aparecido três dias
depois da crucificação e que ele estava vivo [...] talvez ele fosse o Messias,
sobre o qual os profetas relatavam maravilhas” (GEISLER, 2002, p.449).
Talo, escritor
samaritano, por volta do ano 52 d.C. fez uma citação sobre Jesus. Nenhuma de
suas obras sobreviveu, mas algumas citações fragmentadas foram preservadas em
outros autores. Um desses é Júlio Africano (160-240 d.C.), que, por volta de
221 d.C., cita Talo numa discussão sobre a escuridão que seguiu a crucificação
de Cristo: “No mundo inteiro caiu uma escuridão tenebrosa; as rochas foram
partidas por um terremoto, e muitos lugares na Judéia e outros distritos foram
derrubados. Essa escuridão, Talo, no terceiro dos livros que escreveu sobre a
história, explica essa escuridão como um eclipse do Sol – o que me parece
ilógico”. Júlio identifica a escuridão que Talo considerou um eclipse solar
como a escuridão na crucificação descrita em Lucas 23:44,45.
Outros documentos
extrabíblicos importantes aparecem em documentos oficiais do governo romano. Um
destes foi Plínio, o Jovem (61/62-114 d.C.), autor e administrador romano que
numa carta ao imperador Trajano, por volta de 112 d.C., descreve as práticas
dos primeiros cristãos: “[...] o costume de se reunir antes do amanhecer num
certo dia, quando então cantavam responsivamente os versos de um hino a Cristo,
tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns aos outros a não cometer
maldade alguma, não defraudar, não roubar, não adulterar, nunca mentir, e a não
negar a fé quando fossem instados a fazê-lo; depois disso tinham o costume de
separar-se e se reunir novamente para compartilhar a comida – comida do tipo
comum e inocente” (Epístolas 10.96). Esta passagem confirma várias referências
do Novo Testamento, entre elas que os cristãos adoravam a Jesus como Deus, que
as práticas revelam uma ética forte; também uma referência à festa do Amor e a
Ceia do Senhor. Na mesma carta, Plínio chama o ensinamento de Jesus e seus
seguidores de “superstição excessiva” e “superstição contagiosa”, que pode se
referir à crença e à proclamação cristã da ressurreição de Jesus.
Outra fonte é o
Imperador Trajano (53-117 d.C.), que em resposta à carta de Plínio, dá
instruções para punir os cristãos: “Nenhuma busca para encontrar essas pessoas
deve ser feita; quando eles forem denunciados e condenados, devem ser punidos;
mas com a restrição de que, quando a pessoa negar ser um cristão, e provar que
não é (ou seja, adorando nossos deuses), ela será perdoada por arrependimento,
apesar de ter incorrido em suspeita anteriormente” (Epístolas 10.97).
Outra fonte de
testemunho sobre Jesus é o Talmude, que foi compilado entre 70 e 200 d.C.,
durante o chamado período Tanaíta, e que nos traz informações preciosas sobre o
Jesus histórico. O texto mais significativo é o tratado da Mishná: “Na véspera
da Páscoa eles penduraram Yeshu e antes disso, durante quarenta dias o arauto
proclamou que [ele] seria apedrejado ‘por prática de magia e por enganar Israel
e fazê-lo desviar-se. Quem quer que saiba algo em sua defesa venha e interceda
por ele’. Mas ninguém veio em sua defesa e eles o penduraram na véspera da
Páscoa” (Talmude Babilônico, Sanhedrin. 43a). Essa passagem confirma a
crucificação, à época do evento na véspera da Páscoa e a acusação de feitiçaria
e apostasia. Esse texto nos informa sobre a proclamação que foi enviada antes
da morte de Jesus. Por várias vezes tentaram apedrejá-lo por blasfêmia ou até
mesmo prendê-lo, mas não conseguiram (cf. João 8:58,59; 10:31-33,39).
Outras fontes, além
das fontes judaicas e romanas, podem ser encontradas. Por exemplo, Luciano de
Samosata (125-180 d.C.), autor grego do século II. Suas obras são marcadas pelo
sarcasmo ao cristianismo: “Os cristãos, como sabes, adoram um homem até hoje –
o personagem distinto que introduziu seus rituais insólitos, e foi crucificado
por isso [...] Essas criaturas mal-orientadas começam com a convicção geral de
que são imortais, o que explica o desdém pela morte e a devoção voluntária que
são tão comuns entre eles; e ainda foi incutido neles pelo seu legislador
original que são todos irmãos, desde o momento em que se convertem, e negam os
deuses da Grécia, e adoram o sábio crucificado, e vivem segundo suas leis. Tudo
isso adotam como fé, e como resultado desprezam todos os bens mundanos,
considerando-os simplesmente como propriedade comum” (Morte do peregrino,
11-3). Novamente vemos, num documento não cristão, fala de Jesus adorado como
Deus, que Ele introduziu ensinamentos e que foi crucificado por seus
ensinamentos, como testifica o Novo Testamento.
Portanto, aqueles que
criticam a existência de Jesus o fazem por total ignorância, pois a história
apresenta evidências fundamentais da veracidade de Jesus. Semana que vem
continuamos.
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