24 de setembro de 2015

QUEM ESCREVEU A BÍBLIA E POR QUE DEVERIA CRER NELA? (parte 1)


Gilson Souto Maior JuniorPastor Sênior da Igreja Batista do Estoril
Bauru/SP

Essa é uma pergunta que muitos me fazem, principalmente aqueles que necessitam de explicações mais racionais. Para alguns, de fato, a fé lhes basta, pois “A fé é a garantia do que se espera e a prova do que não se vê” (Hebreus 11:1); entretanto, há outros que necessitam de evidências, quase que um sentimento visceral por provas. Por compreender aqueles que necessitam de provas, vamos a partir de hoje escrever sobre algumas dúvidas sobre a Bíblia e sua mensagem.
Quem escreveu a Bíblia? Segundo a nossa Declaração Doutrinária, “A Bíblia é a Palavra de Deus em linguagem humana. É o registro da revelação que Deus fez de si mesmo aos homens. Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo. Tem por finalidade revelar os propósitos de Deus, levar pecadores à salvação, edificar os crentes e promover a glória de Deus. 


Seu conteúdo é a verdade, sem mescla de erro e por isso é um perfeito tesouro de instrução divina” (Artigo I).
Ou seja, Deus é o Autor principal, mas Ele usou seres humanos, com sua cultura e linguagem para transmitir ao ser humano a mensagem Divina. A Bíblia pode ser chamada de A carta do Criador à criatura, ou se você achar melhor, O manual do Fabricante. Esses homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo não perdiam sua capacidade intelectual e nem estavam num tipo de transe, como se estivessem debaixo de uma atividade mediúnica, sem vontade ou raciocínio. Um bom exemplo que sempre gosto de mostrar é o profeta Amós, que sendo um boiadeiro (Amós 7:14) chama numa de suas profecias as mulheres abastadas de Samaria de “[...] vacas de Basã” (4:1), pois enquanto elas se embriagavam e comiam de forma desmedida, os pobres e os necessitados eram oprimidos. Isso significa que os autores bíblicos, embora inspirados pelo Espírito Santo, não perdiam a capacidade para escrever numa linguagem inteligível e clara, usando elementos humanos e culturais para expressar a Verdade de Deus.
Portanto, vamos encontrar nas Escrituras Sagradas vários tipos de linguagem: Lei, história, poesia, profecia, contos, parábolas, cânticos, enfim, por meio de todas as formas que o ser humano podia expressar-se. A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por Deus, o que lhe confere a autoridade Divina: “Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2Timóteo 3:16). Em outras palavras, o texto sagrado do Antigo Testamento foi “soprado por Deus” (Gr.Theopneustos), e por isso dotado de autoridade Divina para o pensamento e para a vida do cristão. O apóstolo Pedro ressalta: “Pois a profecia nunca foi produzida por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, conduzidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1:21; cf. 1Coríntios 2:13).
Mas, como posso ter certeza disso? Será que os judeus e cristãos não mudaram a Bíblia? A Bíblia não foi obra de Constantino, o imperador romano, para manter-se no poder? Essas são algumas perguntas que as pessoas geralmente me fazem e sempre digo a elas: “Vamos ver as evidências”. Os muçulmanos e outros grupos nos acusam de ter “pervertido” o texto bíblico. Será mesmo? A Bíblia foi escrita em três línguas originais: Hebraico e Aramaico (Antigo Testamento) e Grego koinè (Novo Testamento). Quando falamos disso temos que pensar na preservação do texto bíblico. Por hoje falarei do texto hebraico e sua preservação.
A preservação do hebraico bíblico foi um processo longo e é chamado pelos estudiosos de Texto Massorético (TM). O TM possui uma estrutura consonantal que remonta ao período do Segundo Templo (520 a.C. a 70 d.C.) e desde o ano 100 d.C. aproximadamente tem sido adotada por todas as comunidades judaicas como a forma textual definitiva e oficial das Sagradas Escrituras Hebraicas. O texto sagrado pós-exílico é chamado de Texto Protomassorético ou Protorabínico; esse texto não continha ainda à vocalização, à acentuação e o aparato massorético desenvolvidos apenas durante a Idade Média. Esse texto foi preservado e transmitido pelos escribas judeus da época do Segundo Templo e tornou-se a origem do TM. Existem várias provas que o Texto Protomassorético já existia antes do século III a.C., como comprovam os vários manuscritos encontrados em 1948 em Qumrã, escritos em paleohebraico.
Por volta do século I d.C. os rabinos resolveram selecionar e oficializar um dos tipos textuais hebraicos que julgavam ser melhor e mais consistente sendo o texto padrão. A partir desse período o texto hebraico tipo massorético passou a ser copiado com exatidão e com reverência pelos judeus e, além disso, sem alterações, adições, omissões ou modificações significativas. Podemos dizer que o texto permaneceu inalterado desde o período do Segundo Templo devido ao trabalho meticuloso dos primeiros escribas e mais tarde pelos massoretas.
No judaísmo, uma sucessão de pessoas ficou responsável por preservar e padronizar o texto bíblico: Os soferim (escribas) foram estudiosos e guardiões do texto entre os séculos V e III a.C. ; os zugot (“pares” de estudiosos textuais) foram líderes espirituais dos judeus e foram designados para esta tarefa entre os séculos II e I a.C.; Os tanaítas (repetidores ou mestres) estiveram em atividade até 200 d.C. A obra dos tanaítas pode ser encontrada no Midrash, Toseftá e o Talmude (escrito entre 100-500 d.C.), que contém a Mishná (repetição)  e Gemara (o assunto aprendido). E os massoretas (500 a 950 d.C.) foram os sucessores dos antigos escribas judeus e que se dedicaram a copiar e transmitir o texto da Bíblia Hebraica. Esse grupo de estudiosos desenvolveu um sistema estritamente rígido de controle do texto hebraico e se empenhou em preservar toda letra de toda palavra da Bíblia Hebraica e com isso evitar possíveis erros nos manuscritos, visando conservar de forma integral o texto bíblico. Nesse aspecto eles suplantaram os antigos escribas judeus.
Semana que vem continuamos

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