Gilson Souto Maior JuniorPastor Sênior da Igreja
Batista do Estoril
Bauru/SP
E-mail: gilsonsmjr@hotmail.com
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Essa é uma pergunta
que muitos me fazem, principalmente aqueles que necessitam de explicações mais
racionais. Para alguns, de fato, a fé lhes basta, pois “A fé é a garantia do
que se espera e a prova do que não se vê” (Hebreus 11:1); entretanto, há outros
que necessitam de evidências, quase que um sentimento visceral por provas. Por
compreender aqueles que necessitam de provas, vamos a partir de hoje escrever
sobre algumas dúvidas sobre a Bíblia e sua mensagem.
Quem escreveu a
Bíblia? Segundo a nossa Declaração Doutrinária, “A Bíblia é a Palavra de Deus
em linguagem humana. É o registro da revelação que Deus fez de si mesmo aos
homens. Sendo Deus seu verdadeiro autor, foi escrita por homens inspirados e
dirigidos pelo Espírito Santo. Tem por finalidade revelar os propósitos de
Deus, levar pecadores à salvação, edificar os crentes e promover a glória de
Deus.
Seu conteúdo é a verdade, sem mescla de erro e por isso é um perfeito
tesouro de instrução divina” (Artigo I).
Ou seja, Deus é o
Autor principal, mas Ele usou seres humanos, com sua cultura e linguagem para
transmitir ao ser humano a mensagem Divina. A Bíblia pode ser chamada de A
carta do Criador à criatura, ou se você achar melhor, O manual do Fabricante.
Esses homens inspirados e dirigidos pelo Espírito Santo não perdiam sua
capacidade intelectual e nem estavam num tipo de transe, como se estivessem
debaixo de uma atividade mediúnica, sem vontade ou raciocínio. Um bom exemplo
que sempre gosto de mostrar é o profeta Amós, que sendo um boiadeiro (Amós
7:14) chama numa de suas profecias as mulheres abastadas de Samaria de “[...]
vacas de Basã” (4:1), pois enquanto elas se embriagavam e comiam de forma
desmedida, os pobres e os necessitados eram oprimidos. Isso significa que os
autores bíblicos, embora inspirados pelo Espírito Santo, não perdiam a
capacidade para escrever numa linguagem inteligível e clara, usando elementos
humanos e culturais para expressar a Verdade de Deus.
Portanto, vamos
encontrar nas Escrituras Sagradas vários tipos de linguagem: Lei, história,
poesia, profecia, contos, parábolas, cânticos, enfim, por meio de todas as
formas que o ser humano podia expressar-se. A característica mais importante da
Bíblia não é a sua estrutura e sua forma, mas o fato de ter sido inspirada por
Deus, o que lhe confere a autoridade Divina: “Toda a Escritura é divinamente
inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para
instruir em justiça” (2Timóteo 3:16). Em outras palavras, o texto sagrado do
Antigo Testamento foi “soprado por Deus” (Gr.Theopneustos), e por isso
dotado de autoridade Divina para o pensamento e para a vida do cristão. O
apóstolo Pedro ressalta: “Pois a profecia nunca foi produzida por vontade
humana, mas homens falaram da parte de Deus, conduzidos pelo Espírito Santo”
(2Pedro 1:21; cf. 1Coríntios 2:13).
Mas, como posso ter
certeza disso? Será que os judeus e cristãos não mudaram a Bíblia? A Bíblia não
foi obra de Constantino, o imperador romano, para manter-se no poder? Essas são
algumas perguntas que as pessoas geralmente me fazem e sempre digo a elas: “Vamos
ver as evidências”. Os muçulmanos e outros grupos nos acusam de ter
“pervertido” o texto bíblico. Será mesmo? A Bíblia foi escrita em três línguas
originais: Hebraico e Aramaico (Antigo Testamento) e Grego koinè (Novo
Testamento). Quando falamos disso temos que pensar na preservação do texto
bíblico. Por hoje falarei do texto hebraico e sua preservação.
A preservação do
hebraico bíblico foi um processo longo e é chamado pelos estudiosos de Texto
Massorético (TM). O TM possui uma estrutura consonantal que remonta ao período
do Segundo Templo (520 a.C. a 70 d.C.) e desde o ano 100 d.C. aproximadamente
tem sido adotada por todas as comunidades judaicas como a forma textual
definitiva e oficial das Sagradas Escrituras Hebraicas. O texto sagrado
pós-exílico é chamado de Texto Protomassorético ou Protorabínico; esse texto
não continha ainda à vocalização, à acentuação e o aparato massorético
desenvolvidos apenas durante a Idade Média. Esse texto foi preservado e
transmitido pelos escribas judeus da época do Segundo Templo e tornou-se a
origem do TM. Existem várias provas que o Texto Protomassorético já
existia antes do século III a.C., como comprovam os vários manuscritos
encontrados em 1948 em Qumrã, escritos em paleohebraico.
Por volta do século I
d.C. os rabinos resolveram selecionar e oficializar um dos tipos textuais
hebraicos que julgavam ser melhor e mais consistente sendo o texto padrão. A
partir desse período o texto hebraico tipo massorético passou a ser copiado com
exatidão e com reverência pelos judeus e, além disso, sem alterações, adições,
omissões ou modificações significativas. Podemos dizer que o texto permaneceu
inalterado desde o período do Segundo Templo devido ao trabalho meticuloso dos
primeiros escribas e mais tarde pelos massoretas.
No judaísmo, uma
sucessão de pessoas ficou responsável por preservar e padronizar o texto
bíblico: Os soferim (escribas) foram estudiosos e guardiões do texto entre os
séculos V e III a.C. ; os zugot (“pares” de estudiosos textuais) foram líderes
espirituais dos judeus e foram designados para esta tarefa entre os séculos II
e I a.C.; Os tanaítas (repetidores ou mestres) estiveram em atividade até 200
d.C. A obra dos tanaítas pode ser encontrada no Midrash, Toseftá e o Talmude (escrito
entre 100-500 d.C.), que contém a Mishná (repetição) e Gemara (o assunto
aprendido). E os massoretas (500 a 950 d.C.) foram os sucessores dos antigos
escribas judeus e que se dedicaram a copiar e transmitir o texto da Bíblia
Hebraica. Esse grupo de estudiosos desenvolveu um sistema estritamente rígido
de controle do texto hebraico e se empenhou em preservar toda letra de toda
palavra da Bíblia Hebraica e com isso evitar possíveis erros nos manuscritos,
visando conservar de forma integral o texto bíblico. Nesse aspecto eles
suplantaram os antigos escribas judeus.
Semana que vem continuamos
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