Já na minha infância observava
atentamente o dia-a-dia do meu país e, mesmo criança, indagava ao meu querido e
saudoso pai sobre o que via nas ruas da minha cidade. No meu jeito de ser, de
perguntar muito, lembro que, certo dia, o meu velho disse-me: você pergunta
demais, vai terminar sendo um repórter. Engraçado, terminei sendo.
Mas, sabe o que
perguntava tanto? Eu perguntava o que até hoje eu não consigo entender: o porquê
das crianças pedirem esmola nas ruas e qual motivo da existência de tanta gente
pedindo, até pessoas idosas, que na minha curiosidade e inocência de criança,
especialmente os velhos, não deveriam ter uma vida de mendicância, uma vida tão
difícil no ocaso de suas existências. Aquilo tudo me perturbava e perturba até
hoje.
Não consigo entender e
até sofro ao ver a continuidade desse filme tétrico da vida. Dessa miséria e
desigualdade que nunca se acaba e, somente serve para continuar sendo tema para
uma demagogia política de determinados pseudos representantes do povo, que nada
fazem para minorar esse exército de desvalidos, desamparados, desempregados,
sem nenhuma perspectiva de dias melhores e que perambulam pelas ruas das nossas
cidades.
Não é de hoje, portanto, que eu, que você, e
todos os brasileiros assistem, diariamente, a esse filme de horror, uma verdadeira
produção de desigualdades sociais.
Eu vejo isso todos os
dias. Todas as manhãs, naquela esquina de um posto de combustível, perto de um e
semáforo, crianças e jovens, rapazes e moças, de mão estendida, pedindo uns
trocados. Eu vejo isso todos os dias e, muitas das vezes, fico na dúvida,
perguntando a mim mesmo. Devo ou não ajudá-los, dar-lhes algum trocado? A dúvida é porque muitos deles, não querem nem
comida, só querem dinheiro. Os que pedem comida estão na verdade com fome. Os
que pedem um trocadinho querem, geralmente, alimentar um vício. As drogas,
infelizmente, estão consumindo os nossos meninos e meninas. Tudo isso é fruto da
falta de um investimento social mais profundo parte dos nossos governantes. A
criação de mais empregos e de preparação de mão de obra especializada, de apoio
mais intenso ao setor educacional, especialmente para crianças e jovens. Dizendo
isso, não estou a apresentar nenhuma novidade. Nos países desenvolvidos e
sérios isso é feito. Aqui é?
Não serão essas bolsas distribuídas pelo
governo que aí está que irão solucionar para o cenário que estamos vendo, todos
os dias. É preciso repensar este país, começando pelos políticos, que precisam
pensar no povo. Tudo isso que digo nesse espaço é um desabafo de um brasileiro
como tantos outros que estão, a exemplo de mim, decepcionados.
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