Gilson Souto Maior Junior,
Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril.
E-mail: gilsonsmjr@hotmail.com
|
Em
28 de agosto de 1963, o pastor Batista Martin Luther King Jr. proferiu o seu
famoso discurso “Eu tenho um sonho” em frente ao Memorial Lincoln em
Washington, durante a chamada “Marcha pelo emprego e pela liberdade”. Aquele
foi um momento crucial na história do Movimento Americano pelos Direitos Civis,
colocando uma forte pressão no governo americano para enfrentar a questão do
racismo. Naquela ocasião mais de duzentas mil pessoas ouviram o discurso,
considerado um dos maiores da história. O Dr. King disse: “Eu tenho um sonho
que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua
crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os
homens são criados iguais. Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas
da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos
donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. [...] Eu
tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma
nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu
caráter. Eu tenho um sonho hoje! [...] Eu tenho um sonho que um dia todo vale
será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos
serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor
será revelada e toda a carne estará junta” (KING, 1968).
Essas
palavras ecoam até hoje e certamente o sonho do Dr. King é o sonho de todos
aqueles que desejam uma sociedade mais justa e coerente, que respeita o ser
humano e lhe atribui o valor devido. Mas, infelizmente, ainda hoje vemos
pessoas que se acham melhores que as outras, numa visão tosca e ignorante de um
conceito falido como a “raça”. O racismo tem muitas faces, mas nada é pior do
que aquela ideia de que a cor de minha pele define quem eu sou. Em nosso
planeta não existem “raças”, mas uma única “raça”, a raça humana.
Isso
é evidente na Bíblia. O vocábulo hebraico ’ädäm significa
“Homem, espécie humana, Adão”. Embora a etimologia da palavra não possa ser
explicada com certeza, a palavra provavelmente está relacionada com a cor
avermelhada da pele humana (’ädmû); a antiga palavra acádica ’adämu,
“vermelho escuro”, o acadiano adämatu, “solo vermelho escuro” e adamu,
“sangue vermelho”, e o aramaico ’ädam “como sangue” devem ser
observados com atenção. Por isso a palavra ’ädäm significa em
alguns versículos a própria humanidade: “E disse o SENHOR: Destruirei da face
da terra o homem que criei, tanto o homem como o gado, os animais que rastejam
e as aves do céu; pois me arrependo de havê-los feito” (Gênesis 6:7). Fica
evidente aqui que a raça humana é totalmente distinta dos animais, de modo que
o ser humano não pode ser chamado de animal, pois fomos criados à imagem e
semelhança de Deus.
Então, qual seria a cor dos primeiros humanos
criados por Deus? A resposta é nem branco nem negro, mas uma cor suavemente
avermelhada, muito próxima da pele indígena dos pataxós. Segundo a Escritura o
homem (’ädäm) foi feito da argila (’ädamah), num claro jogo de palavras em que
provavelmente está relacionada com a cor avermelhada da pele humana (’ädmû).
Portanto, a partir das Escrituras, nós defendemos
em nossa Declaração Doutrinária o valor do ser humano: “Por um ato especial, o
homem foi criado por Deus à sua imagem e conforme a sua semelhança e disso
decorrem o seu valor e dignidade (Gn. 1.26-31; 18.22; 9.6; Sl. 8.1-9; Mt.
16.26)” (Artigo III). Fica evidente a beleza do ser humano no processo
criativo de Deus, pois a humanidade como a conhecemos hoje não é o modelo
verdadeiro. Millard Erickson diz que as “[...] pessoas hoje estão, na
realidade, numa condição anormal” (1992, p.215), ou seja, a humanidade como
vemos hoje está deturpada e deformada por causa do pecado. O estilo de
vida da humanidade moderna não exemplifica o projeto inicial de Deus. Por isso
a necessidade fundamental de retornar a Deus, pois somente Nele é que
encontramos o plano original.
Vale salientar também que a Bíblia não defende o
racismo, principalmente aqueles que afirmam que a maldição de Cam, filho de
Noé, teria sido ser negro. Essa informação é uma mentira deslavada, pois a
Bíblia nunca fala isso. Cam viu a nudez de seu pai e foi contar aos irmãos (cf.
Gênesis 9:20-29), de modo que o problema dele foi expor seu pai ao ridículo.
Pelo visto parece que apenas Canaã compartilhou da atitude desrespeitosa de seu
pai, de modo que a maldição não se aplica a outros descendentes de Cam como os
egípcios e os africanos. Os cananeus foram amaldiçoados, não tanto pelo pecado
de Cam e de seu filho, mas pela notória promiscuidade que eles atingiram
séculos depois.
O Dr. King tinha um sonho baseado na esperança messiânica de que a Vinda do
Senhor Jesus trouxesse a paz a humanidade. Esse sonho, no entanto, é visto na
Bíblia como a esperança de uma nova humanidade que Deus está criando em Cristo.
Jesus Cristo veio à primeira vez para mostrar o Caminho para Deus, mostrando
que o problema da humanidade não está na cor da pele, mas no pecado que atua no
coração humano. Por isso Ele morreu na cruz para que todo aquele que Nele crê
venha a ser transformado de dentro para fora, olhando os outros seres humanos
com o mesmo amor e graça como Deus nos vê. E a esperança que temos é que Jesus
Cristo virá novamente, e aí sim, “Todo vale será elevado, todo monte e toda
colina serão rebaixados; o terreno acidentado será nivelado, e o que é íngreme
será aplanado. A glória do SENHOR se revelará; e todos juntos a verão, pois foi
o SENHOR quem falou” (Isaías 40:4,5).
Nenhum comentário:
Postar um comentário