23 de agosto de 2015

APRENDENDO COM A CRISE


Gilson Souto Maior Junior Pastor Sênior da Igreja Batista do Estoril
Bauru-SP
E-mail: gilsonsmjr@hotmail.com
Segundo o dicionário, a nossa palavra “Crise” é uma palavra latina (crisis) derivada do grego (krísis,-eós) e significa o ato de separar, distinção, decisão, julgamento, resolução, sentença, condenação (PABON, 1967, p.356). Diferente daqueles que usam o marketing ou a autoajuda para dizer que “crise” é um momento de oportunidades, na verdade a palavra revela um julgamento e um momento de resolução diante das dificuldades. No grego clássico “krísis” aponta a decisão de um árbitro num conflito, separação, seleção, disputa (TUGGY, 1996, p. 538).
Isso significa que o momento em que estamos vivendo em nosso país representa algo muito maior do que a grande maioria das pessoas consegue compreender. Há uma crise grande no Brasil e estamos vivendo um tempo de julgamento do governo e do país. O governo mentiu sobre a realidade do país, maquiando a economia e a situação social, nutrindo por meio de uma ideologia raivosa a falsa ideia de uma luta de classes. Enquanto lançavam sobre a sociedade a ilusão e o conflito, os líderes partidários enriqueceram por meio da corrupção; falam de uma “elite branca”, mas vivem como grandes milionários, abastecidos pelo dinheiro público e o favorecimento dos “amigos do rei”.
Olhando essa crise política, econômica, social e espiritual ouço claramente a voz dos antigos profetas de Israel, principalmente o que ocorreu no reino do Norte no século VIII a.C. durante e depois do reinado de Jeroboão II (786-746 a.C.). Os arqueólogos atestam que durante o reinado de Jeroboão o reino de Israel passou por um momento de crescimento econômico, militar e social. No entanto, foi nesse período que também cresceram as injustiças sociais, a imoralidade e a corrupção. Amós, um profeta enviado por Deus, declara: “Assim diz o SENHOR: Pelas três transgressões de Israel, sim, e pela quarta, não retirarei o castigo; pois vendem o justo por prata, e o necessitado, por um par de sandálias. Esmagam a cabeça dos pobres no pó da terra, pervertem o caminho dos oprimidos; um homem e seu pai deitam-se com a mesma moça, profanando assim o meu santo nome. Também se deitam sobre roupas empenhadas junto a qualquer altar e bebem o vinho exigido como multa no templo de seu Deus” (Amós 2:6-8). Segundo o profeta, a nação toda está envolvida em injustiça social, violência, opressão, imoralidade e uma falsa religiosidade.
Noutra passagem ainda mais incisiva o profeta declara: “Por isso também vos deixei de dentes limpos em todas as vossas cidades, e falta pão em toda parte; vós, porém, não vos convertestes a mim, diz o SENHOR. Além disso, retive a vossa chuva quando ainda faltavam três meses para a colheita; e fiz com que chovesse sobre uma cidade e não chovesse sobre outra; choveu sobre um campo, mas o outro, sobre o qual não choveu, secou. O povo de duas ou três cidades vagava, indo a outra cidade para beber água, mas não se saciaram; vós, porém, não vos convertestes a mim, diz o SENHOR. Castiguei as vossas muitas hortas e vinhas com pragas e ferrugem; vossas figueiras e oliveiras foram devoradas pelo gafanhoto; vós, porém, não vos convertestes a mim, diz o SENHOR” (Amós 4:6-9). O que vemos nessa passagem? A advertência de que Deus permitiu carestia, seca e a destruição das colheitas com a intenção de promover um arrependimento, mas Israel não buscou a Deus nem se arrependeu de seus pecados.
A história nos mostra que após o longo e próspero reinado de Jeroboão II (41 anos) a nação de Israel entrou num colapso social e político e em vinte e quatro anos viu a destruição de Samaria (722 a.C.) pelos exércitos assírios e a deportação de toda sua população para o exílio por ordem de Sargão II. A crise foi o julgamento de uma sociedade que perdeu seus princípios norteadores, caminhando para a destruição e o desaparecimento. O reino de Israel deixou de existir e a mistura étnica com os assírios e outros povos fez surgir os samaritanos.
O que podemos aprender num momento de crise como a que vivemos agora? Em primeiro lugar é necessário compreender que somos pecadores, falhos e que Deus nos chama a um arrependimento urgente. Existe no Brasil um tipo de “cinismo cívico”, onde a lei não é respeitada e que alguns parecem ter um tipo de “salvo-conduto” para errar e não serem punidos. A corrupção endêmica não é privilégio dos palácios de Brasília, mas infelizmente faz parte da cultura tupiniquim e que precisa ser urgentemente abandonada por todos nós. Deus nos chama ao arrependimento: “Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e assim o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis. Odiai o mal, amai o bem e estabelecei justiça na porta. Talvez o SENHOR, o Deus dos Exércitos, tenha piedade do remanescente de José” (Amós 5:14,15).
Em segundo lugar é necessário continuar a pressionar nossos governantes, exigindo deles não apenas aquilo que é correto ou legal, mas principalmente o que é ético. Por exemplo, pode ser legal o salário de vereadores, deputados e senadores. A questão é: Esse salário se pauta em necessidades ou privilégios? Se exigem de nós um “sacrifício”, por que os governantes não “cortam na própria pele”? Por que pagamos melhor um vereador do que um professor? Quantos assessores parlamentares inúteis ganham mais que muitos médicos que trabalham em postos sem nenhuma condição de atender as pessoas? Pode ser legal, mas não é ético.
A crise não é uma oportunidade, mas um julgamento. Alguns vão discordar de mim, pois preferirão concordar com as palavras de efeito do marketing popular. No entanto, vejo nessa crise brasileira atual um chamado do Juiz de toda terra ao arrependimento dos seres humanos. Sim, Deus é amor, mas também é justiça. E como nos diz o rei Davi: “Deus é um juiz justo, um Deus que manifesta indignação todos os dias. Se o homem não se arrepender, Deus afiará sua espada; seu arco já está armado e pronto” (Salmos 7:11,12).



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