26 de novembro de 2014

Rádio AM e migração: É preciso pensar!




O rádio, especialmente o AM – Amplitude Modulada – vem ao longo do tempo sendo uma mídia ameaçada por comentários negativos os mais diversos. Foi assim com a chegada da televisão e hoje, para os negativistas de plantão, com a Internet a situação fica pior. Mas, contrariando essas especulações o rádio continua firme e na segunda colocação na preferência popular, uma confirmação das pesquisas.

A chegada da Internet, pelo contrário, abriu novas perspectivas para o rádio  proporcionado uma maior interação com o ouvinte, democratizando a informação e fazendo com que os canais ofertados pela rede mundial de computadores universalizem ainda mais a mensagem dessa mídia.    

“O rádio é talvez a mídia que mais recebeu ameaças de morte até hoje. A todas, respondeu com criatividade e tecnologia. O rádio é a maior prova de capacidade de convivência dos diferentes meios de comunicação”. (O novo rádio – cenários da radiodifusão na era digital – pag. 8 – Antonio Francisco Magnoni e Juliano Maurício da Carvalho editora SENAC- SP)

Agora, mais do que antes, o nosso rádio quase centenário continua firme e trocando figurinhas com os ouvintes, como bem desejava o dramaturgo Eugen Berthold Friedrich Brecht, já final da década de 20. Para ele: "O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública, constituiria um fantástico sistema de canalização, se fosse capaz, não apenas de emitir, mas também de receber. O ouvinte não deveria apenas ouvir, mas também falar: não isolar-se, mas ficar em comunicação com o rádio. A radiodifusão deveria afastar-se das fontes oficiais de abastecimento e transformar os ouvintes nos grandes abastecedores."

E é o que está acontecendo. A Internet é hoje um porto seguro para as emissoras de rádio, que amplia a sua capacidade de comunicação para com o ouvinte.  Por que então se continuar pensando que o Rádio está acabando?  
No ano de 2010, através da Portaria 290 foi instituído o Sistema Brasileiro de Rádio Digital, objetivando digitalizar as transmissões de radiodifusão sonora em Onda Média e em Frequência Modulada – FM. O objetivo: possibilitar uma boa qualidade de transmissão, notadamente para o rádio em Amplitude Modulada. Mas, o tempo passou e essa tão propalada digitalização foi mais uma vez adiada.

No final de 2013 o governo assinou o decreto que possibilita a migração de emissoras de rádio da banda AM para a FM. O clima de comemoração por parte do Executivo, por ter feito tal oficialização no dia do radialista (07.11.1013), não foi comemorado por todos.
O decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff no ano passado, autoriza as rádios cuja migração for aprovada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e pelo Ministério das Comunicações a transmitir simultaneamente a programação em AM e FM, por até cinco anos.
A esperança da maioria do pessoal das Rádios AM era de que se anunciasse um Não se sabe, até agora o posicionamento definitivo sobre a chegada do padrão tecnológico de digitalização. Nos Estados Unidos o modelo já foi escolhido, desde 2002. Aqui Brasil a indefinição persiste, numa demonstração de incompetência, pois essa migração não atenderá a todos, pois tecnicamente falando não existe espaço suficiente no dial FM para o grande número de emissoras existentes. E aí, como fica? Nem todas, portanto, poderão migrar. E AS QUE MIGRAREM?
O processo é lento e nem todas as empresas de rádio no Brasil – muitas por sinal – não terão condições financeiras para uma mudança desse tipo, que obriga a aquisição de um novo transmissor, afora outros gastos. E mais. A migração de AM para FM tem um aspecto técnico importante a considerar. O alcance de uma emissora de rádio FM é bem menor do que de uma estação em Amplitude Modulada. Com isso, serão prejudicadas as áreas mais remotas, notadamente as rurais.
“Nós passaríamos de um alcance de 120 km para 54 km e não chegaríamos às localidades baixas, como na região do rio Araguari. Além da compra de novos equipamentos, teríamos que pagar a mudança de outorga, que na nossa classe varia entre R$ 800 mil e R$ 1 milhão, e no decreto diz que esse valor deve ser pago em parcela única. Nós não temos esse dinheiro e, por sermos uma fundação, não conseguimos financiamento nem do BNDES” - afirma o presidente da Rádio América-AM padre Edvaldo Pereira Sousa. A emissora é a única em amplitude modulada de Uberlândia, Minas Gerais, que irá migrar para FM. (www.correiodeuberlandia.com.br/wp-uploads)
A opinião do dirigente da emissora mineira deixa patente o descontentamento de muitos radiodifusores, que entendem nessa migração uma medida que em nada beneficia as emissoras que atuam em ondas médias. Para ele, “As interferências e chiados na recepção do sinal AM podem ser resolvidos com a mudança para o digital. E a instalação desse sistema é muito mais barata, cerca de R$ 50 mil. Essa mudança nos interessa. Passar para FM não” – acrescenta.
Ainda para esse dirigente, a sua emissora vai aguardar a liberação do sistema digital. “As interferências e chiados na recepção do sinal AM podem ser resolvidos com a mudança para o digital. E a instalação desse sistema é muito mais barata, cerca de R$ 50 mil. Essa mudança nos interessa. Passar para FM não”- afirma.
Com essa anunciada migração as novas FMs serão sintonizadas entre 76 e 88 Mhz, ou seja, antes da faixa que é coberta por qualquer rádio FM vendido atualmente. As empresas interessadas terão um prazo de oito meses a um ano para optar pela migração. As indústrias, por sua vez, terão cinco anos de prazo para se adaptar e produzir aparelhos de rádio FM que comecem em 76 Mhz. Não dá para entender!

Duas indagações, ainda, sobre os aparelhos receptores. Eles serão tão acessíveis e baratos quanto os que são vendidos atualmente? Quem irá se habilitar a migrar para uma frequência que ainda não se escuta? Não seria melhor esperar um pouco?  Fica a pergunta, notadamente para esses ansiosos e apressadinhos donos de rádio. É preciso pensar para depois não lamentar.




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