23 de junho de 2013

Até quando Brasil?



Pr. Gilson Souto Maior Junior

Nessa semana estamos vendo o povo nas ruas protestando contra uma série de coisas, desde aumento das passagens até a corrupção generalizada. Para muitos as cenas de violência e caos nas ruas podem assustar; para outros tudo não passa de baderna de pessoas que se aproveitam do momento e ainda para outros, o que vimos durante a semana é a expressão de ansiedades não resolvidas e da angústia de viver num país onde os valores estão descaracterizados. Uma coisa é certa: Algo está acontecendo em nosso país e como cristãos não podemos ignorar esse momento.
Zygmunt Bauman disse que nos últimos vinte ou trinta anos temos vivido com um dinheiro que não é nosso, fruto de uma sociedade de consumo e de crédito, seguindo um pensamento filosófico estranho: Use agora e pague depois. Segundo esse pensador, nós hipotecamos o futuro.
E os protestos que vimos apontam para esse caminho de frustração que se pode ouvir nas ruas e nos sites de relacionamento da internet. Não é apenas por causa de vinte centavos (R$ 0,20), mas pelo custo que temos pagado e pela falta de condições básicas como saúde, educação e segurança; a gritaria é contra a corrupção generalizada que faz com que nosso país seja visto como um berço de corrupção legalizada, de uma justiça lenta, antiquada e tendenciosa, principalmente àqueles que têm dinheiro. Não é segredo para ninguém que a nossa população está endividada com o “outro milagre econômico”, que apesar de toda propaganda de sermos uma “potência emergente” o que se esconde por trás é o ganho de poucos e a destruição da dignidade de muitos.
Como explicar que o governo gaste por jogo da Copa das Confederações uma média de R$ 15,8 milhões de reais e não invista algo semelhante nos hospitais públicos? Como explicar que o governo do Distrito Federal gaste R$ 5 milhões em shows na abertura da Copa das Confederações e não invista o mesmo em professores e escolas públicas? É natural que tudo isso exploda numa onda de raiva e protestos.
No entanto, precisamos ter cuidado com aquilo que vemos, lemos e ouvimos. As reivindicações podem ser justas (e são!), mas não significa dizer que os motivos estão claros. Por que protestamos? Por que apoiamos as críticas aos políticos, ao governo e as injustiças cometidas em nosso país? O que esses protestos querem de fato nos comunicar?
O Pr. Jorge Pinheiro, fazendo uma reflexão teórica sobre o movimento das massas, tomando por base Paul Tillich, escreve: “Em termos formais, a massa consiste numa associação de pessoas que, na associação, deixam de ser indivíduos. Sua individualidade se perde e ela se submete à coletividade”. Nesse aspecto precisamos nos perguntar: Quem está por trás disso tudo? Veja, não questiono se as reivindicações são justas, mas quem ganha de fato com isso?
Isso significa que nós como cristãos devemos nos isolar dessas considerações? Não! Como observou Aristóteles, um ser solitário, fora de uma polis (cidade), só pode ser um anjo ou uma fera. E como cristãos ainda não somos como os anjos, imortais; mas estamos bem acima das feras que não são conscientes da sua mortalidade. Como cristãos vivemos entre dois mundos, o eterno e o temporal, entre o céu e a terra, entre o aqui e o porvir. E enquanto não chegamos lá precisamos fazer algo aqui que mostre a beleza do Evangelho e o compromisso ético do Reino de Deus.
Por isso, quando as Escrituras dizem que “Por causa do pecado de uma nação, seus príncipes mudam muito...” (Provérbios 28:2), aponta que a instabilidade política e moral começam na base. E muito do que vemos hoje em nosso país nada mais é que o reflexo da cultura do jeitinho, do levar vantagem em tudo. A corrupção social e política começam na base, gerando maldade, violência, ganância e todos os tipos de pecado que possamos imaginar.
E pior, “Onde não há profecia, o povo se corrompe...” (Provérbios 29:18a). Ou seja, onde não há revelação divina acontece o que vemos. Eis aqui nossa responsabilidade pela pregação bíblica e teocêntrica. Por isso o crescimento evangélico não significa mudança, pois há milhares de igrejas, templos, pastores e toda a parafernália gospel, e a impressão que temos é que o Brasil está pior.
Sim, a Bíblia vai dizer: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e anda atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, e a causa da viúva não chega diante deles” (Isaías 1:23). É verdade que estamos num momento crítico em nossa nação, mas quem vai influenciar as massas? Podemos nos juntar a elas, protestando contra a corrupção e a falta de educação, segurança e saúde; mas será que é só isso? Não deveríamos influenciar com a ética do Reino de Deus essas reivindicações?
Levantemos nossa voz de protesto por “... tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama” (Filipenses 4:8). Mas não nos esqueçamos de fazer isso para a glória de Deus, sendo pessoas diferentes, que gritam por justiça e verdade porque somos servos do Rei justo e verdadeiro, e não simplesmente por alguma motivação humana, carnal ou ideológica. O Brasil precisa que os servos de Cristo levantem-se e como profetas anunciem todo desígnio de Deus.

Pr. Gilson Jr.

Obs. Gilson Souto Maior Junior é pastor sênior da Igreja Batista do Estoril, na cidade de Bauru, São Paulo. Para o meu querido filho, abro este espaço para que possa, também, expor o seu pensamento, de um brasileiro que quer ver um Brasil melhor.  

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