Era uma vez um homem íntegro e correto,
habitante da terra de Uz chamado Jó. Ele buscava a Deus constantemente e
procurava ter uma vida que agradasse a Deus. Era um homem abençoado, pai de dez
filhos, sete rapazes e três moças; ele era rico e todos os seus filhos
desfrutavam da riqueza dele. Ele era bondoso, pois ajudava os órfãos e as
viúvas, sendo complacente e justo com aqueles que precisavam de sua ajuda.
Até que um dia, na presença do
Altíssimo, se apresentou Satanás, o Adversário. De forma sutil e dissimulada
fala com Deus e acusa Jó de favorecimento ilícito da bondade de Deus. Na
acusação satânica, Jó só amaria a Deus porque Ele o protegia de todos os lados;
implicitamente Deus estava sendo acusado de ser um demagogo, um político sem
caráter, que “suborna” as pessoas, um tipo de Ser que manipula os resultados.
Em outras palavras, Satanás acusa Deus de falta de integridade.
Mas Deus não estava sendo julgado, pois
como Juiz de toda a Terra Ele tem o direito de julgar sem ser julgado, pois é
perfeito em Seu caráter. Deus permite que a ação do acusador se estenda contra
tudo que Jó tem menos a sua vida. E assim como um psicólogo behaviorista,
Satanás tenta provar
Jó estava condicionado a amar a Deus. E assim, de uma
hora para outra, Jó perde seus bois, suas ovelhas, seus camelos, seus servos e
seus filhos. Uma angústia profunda invade sua alma, uma dor profunda, quase
inexplicável; todavia, Jó não pecou nem culpou a Deus por coisa alguma. Pelo
contrário, ele orou: “Eu saí nu do ventre de minha mãe, e nu voltarei para
lá. O SENHOR o deu, e o SENHOR o tirou; bendito seja o nome do SENHOR” (Jó
1:21).Pr. Gilson Souto Maior Jr. - Bauru - São Paulo |
Insatisfeito, Satanás provoca a Deus,
mostrando que Jó perdeu coisas, mas que sua vida não fora afetada diretamente.
Mas o Altíssimo não se perde em Suas ações nem nas Suas palavras, pois conhece
muito bem o acusador. Novamente Deus permite que Satanás o ataque, mas não lhe
dá o direito de tirar a vida. E assim, Jó ficou extremamente doente com feridas
malignas, a ponto de sentar-se na cinza e raspar a pele com um caco de barro. A
sua esposa, ao ver a situação precária de seu marido e a forma íntegra como
mantinha sua fé, disse: “Tu ainda te manténs íntegro? Amaldiçoa a Deus e
morre” (Jó 2:9). Parece um eco da voz satânica, uma loucura, um desvario.
Jó, no entanto, recusa-se a cometer tal pecado e mantém-se firme no propósito
de não pecar com os lábios.
Seus amigos ao saberem de sua situação
viajaram para encontrá-lo. Ao contemplarem a desgraça em que se encontrava,
Elifaz, Bildade e Zofar choraram, rasgaram as vestes e jogaram terra sobre a
cabeça. Durante sete dias aqueles amigos guardaram um silêncio solidário para
com Jó. Quem dera permanecessem assim! Por quê? Porque aqueles amigos, apesar
de serem piedosos e terem conceitos teológicos corretos, faltou-lhes o amor
capaz de sentir a dor do outro. Eles usaram uma lógica perversa e passaram de
companheiros a acusadores. Eles o acusaram de pecado não confessado, de ser
teimoso e arrogante. Na análise fria e dogmática eles tentaram defender os
caminhos de Deus, como se o Senhor precisasse de defesa na Sua ação misteriosa
no Universo. Eles olharam as explosões emocionais de Jó como uma afronta;
enquanto os amigos tentam provar que Jó é pecador e que Deus está certo em
puni-lo, Jó preocupa-se exclusivamente com a questão do sofrimento, buscando
provar sua inocência.
Muitos falam de Jó como alguém
paciente; mas ele diversas vezes parece alguém a ponto de explodir: “Pereça
o dia do meu nascimento, e a noite em que se disse: Nasceu um menino!” (Jó
3:3). Sua angustia é profunda e não entende como Deus pode permitir aquilo: “Até
quando não afastarás de mim os teus olhos? Quando me deixarás, para que eu
tenha tempo de engolir a saliva?” (Jó 7:19). Há um anseio pela morte, pois
a dor lhe parece insuportável: “Não é curta a minha vida? Para, deixa-me,
para que eu me alegre pelo menos por um pouco; antes que eu seja levado para o
lugar de onde não voltarei, para a terra da escuridão e das densas trevas”
(Jó 10:20,21). Sua fala incita os protestos dos amigos.
Até que Deus entra em cena e do meio de
um redemoinho fala com Jó: “Quem é este que obscurece o conselho com
palavras sem conhecimento? Agora prepara-te como homem; porque te perguntarei,
e tu me responderás” (Jó 38:2,3). Rapidamente o Altíssimo faz lembrar a Jó
quem está no banco dos réus. O mais interessante é perceber que Deus não
responde a nenhuma das perguntas de Jó; pelo contrário, Deus lhe faz perguntas
inquietantes: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?
Conta-me, se tens entendimento” (Jó 38:4). A profundidade das perguntas faz
calar o audacioso Jó: “Eu não sou digno; que te responderia? Pelo contrário,
tapo a boca com as mãos. Falei uma vez, mas não repetirei, ou mesmo duas vezes,
porém não insistirei” (Jó 40:4,5).
Mas Deus não parou: “Quem primeiro
deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe debaixo do céu é meu”
(Jó 41:11). E assim, o Senhor mostrou a Jó que se ele não sabia como o mundo
físico funcionava, não seria um ser humano que diria a Deus como o mundo moral
deveria funcionar. A ação de Deus fez Jó abrir os olhos para sua limitação em
relação à realidade: “[...] e fato falei do que não entendia, coisas
que me eram maravilhosas demais e eu não compreendia [...] Com
os ouvidos eu tinha ouvido falar a teu respeito; mas agora os meus olhos te
veem” (Jó 42:3,5).
Como é triste notar que milhares de
crentes seguem a “teologia” fatalista dos amigos de Jó, tentando ligar bênção a
uma condição de vida boa. A crise que Jó passou era de fé, não sobre o
sofrimento. Muitos olham para seus sofrimentos e questionam: “Por que eu?”; no
entanto, não pensam como Deus pode transformar situações adversas em ótimas
oportunidades para o crescimento pessoal. Assim foi com Abraão, com Jacó, com o
Paulo, os discípulos e o próprio Senhor Jesus. A dor e o sofrimento nem sempre
são consequências do pecado, mas no tratamento de Deus, Ele usará qualquer
instrumento para fortalecer em nós o caráter de Cristo.
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