QUANDO DEUS DIZ “NÃO”!
Bauru - SP
Quando passamos por dificuldades e
situações inesperadas é natural que clamemos a Deus, pois aguardamos que a
resposta seja positiva. Mas, quando a resposta não vem da forma como
esperávamos o que pensamos? Como reagimos? Geralmente nos vem à mente questões
do tipo: “Será que estou orando de forma errada? Por que Deus não me ouve? Se
me ouve, por que não me atende?”.
De fato, às vezes Deus diz “Não”.
Entretanto, isso não significa que Ele deixou de ser fiel ou bondoso, pois se
pensarmos que Deus tem a obrigação de nos atender sempre de forma positiva
implica na falsa ideia de que o Senhor se torna um refém de algum sentimento ou
da nossa vontade. Como somos limitados em nossa compreensão da realidade, vamos
sempre pedir algo que nos livre da dor e da angústia sem perceber o propósito
por trás de todas as coisas.
O apóstolo Paulo disse que orou por
três vezes pedindo ao Senhor que o livrasse de um “espinho na carne” a quem ele
chama de “um mensageiro de Satanás para me atormentar”. Segundo alguns
estudiosos, Paulo estaria enfermo e rogava que o Senhor lhe curasse. No entanto
a resposta do Senhor foi: “A minha graça te é suficiente, pois o meu poder
se aperfeiçoa na fraqueza [...]” (2Coríntios
12:9). Ou seja, a resposta foi “Não”.
Outros homens de Deus também receberam
respostas negativas: Moisés insistiu para entrar em Canaã e não foi atendido
(Deuteronômio 3:23-26); Davi orou para que Deus curasse seu filho, mas a
criança morreu (2Samuel 12:15-20); Jó questionou o sofrimento a que estava
sendo submetido, mas nenhuma de suas perguntas foi respondida (Jó 38:4). Será
que Deus é insensível? Claro que não! Moisés, embora fosse o líder escolhido de
Deus, não entrou em Canaã por causa de sua incredulidade. Davi, embora um homem
segundo o coração de Deus aprendeu que o pecado gera a morte, e embora perdoado
viu que as consequências são inevitáveis. Jó era justo e digno (Jó 1:1), mas
suas perguntas não podiam resistir à limitação dele diante do ato soberano de
Deus.
O mais interessante é perceber que cada
um deles foi tratado com os problemas e nas circunstâncias adversas eles
preferiram confiar mais em Deus. Moisés morreu contemplando a terra prometida,
mas declarando a fé no Senhor: “Feliz és tu, ó Israel! Quem é semelhante a
ti? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua
majestade [...]” (Deuteronômio
33:29). Apesar de Davi ter sofrido com a morte prematura de seu filho, sua dor
não matou sua fé: “Então Davi se levantou do chão, lavou-se, pôs óleo
aromático e mudou de roupa; então entrou no santuário do SENHOR e adorou [...]” (2Samuel 12:20). Jó foi restituído em sua saúde e no final podia
afirmar: “Com os ouvidos eu tinha ouvido falar a teu respeito; mas agora os
meus olhos te veem” (Jó 42:5).
Mas certamente, o “Não” mais
significativo de Deus foi dado ao Seu próprio Filho Jesus. Deus O entregou por
nós como o sacrifício único e total por nossos pecados. Lá no Jardim do
Getsêmani Jesus orou: “[...] Meu Pai, se possível, afasta de mim
este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26:39).
Jesus tinha plena consciência que a vontade do Pai era que Ele morresse na
cruz: “Sabeis que daqui a dois dias é a Páscoa; e o Filho do homem será
entregue para ser crucificado” (Mateus 26:2). Paulo via nesse ato
consciente de Jesus uma ação do Pai e do Filho, pois Cristo foi obediente ao
propósito do Pai e entregou-se a Si mesmo pelos pecadores: “que se entregou
a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo mau, segundo a
vontade de nosso Deus e Pai” (Gálatas 1:4; cf. 2:20; Efésios 5:2; 1Timóteo
2:6; Tito 2:14).
Na cruz Deus disse “Não” ao Seu Filho
para que pudesse dizer “Sim” aqueles que Nele creem: “Aquele que não poupou
nem o próprio Filho, mas, pelo contrário, o entregou por todos nós, como não
nos dará também com ele todas as coisas?” (Romanos 8:32). Por meio de
Cristo temos a remissão de nossos pecados, a justificação pela fé, a salvação
da morte eterna e uma nova vida. Todas essas bênçãos veem a partir do “Não” e
do silêncio de Deus no Calvário.
Talvez você hoje esteja cheio de
questionamentos e até com dúvidas sobre o amor de Deus por você. Entretanto,
saiba que Deus compreende a sua dor, “Pois ele conhece nossa estrutura;
lembra-se de que somos pó” (Salmo 103:14). O mais importante é colocar
diante de Deus nossas dúvidas, medos e angústias. Dizer a Ele que somos
limitados diante das vicissitudes da vida e que precisamos da ajuda Divina.
Falar como aquele pai que levou seu filho a Jesus, suplicando que Ele o
curasse: “[...] Eu creio! Ajuda-me na minha
incredulidade” (Marcos 9:24).
Que coisa estranha! Mas somos assim,
crendo e incrédulos, vendo e não enxergando, caminhando sem certeza do próximo
passo. Mas isso não é fé? Como nos diz o autor bíblico: “A fé é a garantia
do que se espera e a prova do que não se vê” (Hebreus 11:1). Mesmo ouvindo
um “Não” confiamos em Deus, pois a fé vai olhar além do que podemos compreender
agora. Se hoje Ele disser “Não”, diremos como Habacuque: “Ainda que a
figueira não floresça, nem haja fruto nas videiras; ainda que o produto da
oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja
exterminado do estábulo e não haja gado nos currais; mesmo assim, eu me
alegrarei no SENHOR, exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a
minha força! Ele fará os meus pés como os da corça e me fará andar sobre os
meus lugares altos [...]” (Habacuque
3:17-19).
*Gilson Souto Maior Junior
Pastor da Igreja Batista do Estoril em Bauru-SP
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