25 de maio de 2014

Para Meditação

QUANDO DEUS DIZ “NÃO”!

*Pr. Gilson Souto Maior Junior
Bauru - SP

Quando passamos por dificuldades e situações inesperadas é natural que clamemos a Deus, pois aguardamos que a resposta seja positiva. Mas, quando a resposta não vem da forma como esperávamos o que pensamos? Como reagimos? Geralmente nos vem à mente questões do tipo: “Será que estou orando de forma errada? Por que Deus não me ouve? Se me ouve, por que não me atende?”.
De fato, às vezes Deus diz “Não”. Entretanto, isso não significa que Ele deixou de ser fiel ou bondoso, pois se pensarmos que Deus tem a obrigação de nos atender sempre de forma positiva implica na falsa ideia de que o Senhor se torna um refém de algum sentimento ou da nossa vontade. Como somos limitados em nossa compreensão da realidade, vamos sempre pedir algo que nos livre da dor e da angústia sem perceber o propósito por trás de todas as coisas.
O apóstolo Paulo disse que orou por três vezes pedindo ao Senhor que o livrasse de um “espinho na carne” a quem ele chama de “um mensageiro de Satanás para me atormentar”. Segundo alguns estudiosos, Paulo estaria enfermo e rogava que o Senhor lhe curasse. No entanto a resposta do Senhor foi: “A minha graça te é suficiente, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza [...]” (2Coríntios 12:9). Ou seja, a resposta foi “Não”.
Outros homens de Deus também receberam respostas negativas: Moisés insistiu para entrar em Canaã e não foi atendido (Deuteronômio 3:23-26); Davi orou para que Deus curasse seu filho, mas a criança morreu (2Samuel 12:15-20); Jó questionou o sofrimento a que estava sendo submetido, mas nenhuma de suas perguntas foi respondida (Jó 38:4). Será que Deus é insensível? Claro que não! Moisés, embora fosse o líder escolhido de Deus, não entrou em Canaã por causa de sua incredulidade. Davi, embora um homem segundo o coração de Deus aprendeu que o pecado gera a morte, e embora perdoado viu que as consequências são inevitáveis. Jó era justo e digno (Jó 1:1), mas suas perguntas não podiam resistir à limitação dele diante do ato soberano de Deus.
O mais interessante é perceber que cada um deles foi tratado com os problemas e nas circunstâncias adversas eles preferiram confiar mais em Deus. Moisés morreu contemplando a terra prometida, mas declarando a fé no Senhor: “Feliz és tu, ó Israel! Quem é semelhante a ti? Um povo salvo pelo SENHOR, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade [...]” (Deuteronômio 33:29). Apesar de Davi ter sofrido com a morte prematura de seu filho, sua dor não matou sua fé: “Então Davi se levantou do chão, lavou-se, pôs óleo aromático e mudou de roupa; então entrou no santuário do SENHOR e adorou [...]” (2Samuel 12:20). Jó foi restituído em sua saúde e no final podia afirmar: “Com os ouvidos eu tinha ouvido falar a teu respeito; mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5).
Mas certamente, o “Não” mais significativo de Deus foi dado ao Seu próprio Filho Jesus. Deus O entregou por nós como o sacrifício único e total por nossos pecados. Lá no Jardim do Getsêmani Jesus orou: “[...] Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mateus 26:39). Jesus tinha plena consciência que a vontade do Pai era que Ele morresse na cruz: “Sabeis que daqui a dois dias é a Páscoa; e o Filho do homem será entregue para ser crucificado” (Mateus 26:2). Paulo via nesse ato consciente de Jesus uma ação do Pai e do Filho, pois Cristo foi obediente ao propósito do Pai e entregou-se a Si mesmo pelos pecadores: “que se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos livrar deste mundo mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gálatas 1:4; cf. 2:20; Efésios 5:2; 1Timóteo 2:6; Tito 2:14).
Na cruz Deus disse “Não” ao Seu Filho para que pudesse dizer “Sim” aqueles que Nele creem: “Aquele que não poupou nem o próprio Filho, mas, pelo contrário, o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Romanos 8:32). Por meio de Cristo temos a remissão de nossos pecados, a justificação pela fé, a salvação da morte eterna e uma nova vida. Todas essas bênçãos veem a partir do “Não” e do silêncio de Deus no Calvário.
Talvez você hoje esteja cheio de questionamentos e até com dúvidas sobre o amor de Deus por você. Entretanto, saiba que Deus compreende a sua dor, “Pois ele conhece nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Salmo 103:14). O mais importante é colocar diante de Deus nossas dúvidas, medos e angústias. Dizer a Ele que somos limitados diante das vicissitudes da vida e que precisamos da ajuda Divina. Falar como aquele pai que levou seu filho a Jesus, suplicando que Ele o curasse: “[...] Eu creio! Ajuda-me na minha incredulidade” (Marcos 9:24).
Que coisa estranha! Mas somos assim, crendo e incrédulos, vendo e não enxergando, caminhando sem certeza do próximo passo. Mas isso não é fé? Como nos diz o autor bíblico: “A fé é a garantia do que se espera e a prova do que não se vê” (Hebreus 11:1). Mesmo ouvindo um “Não” confiamos em Deus, pois a fé vai olhar além do que podemos compreender agora. Se hoje Ele disser “Não”, diremos como Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas videiras; ainda que o produto da oliveira falhe, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado do estábulo e não haja gado nos currais; mesmo assim, eu me alegrarei no SENHOR, exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força! Ele fará os meus pés como os da corça e me fará andar sobre os meus lugares altos [...]” (Habacuque 3:17-19).


*Gilson Souto Maior Junior
Pastor da Igreja Batista do Estoril  em Bauru-SP


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