Pr.Gilson Jr |
Muitos gostam de ressaltar a paternidade de Deus
com uma frase popular no mínimo duvidosa: “Deus é Pai não padrasto”. O que essa
frase significa? Qual o sentido real dela? Que ser pai é ser bonzinho e ser
padrasto é ser um monstro? A vida tem mostrado que isso não é sempre verdade,
pois muitos pais são relapsos, crápulas, indignos e nem se preocupam com os
filhos que geraram, enquanto que muitos padrastos agem com um amor e cuidado
paternal sem igual. Para mim, essa visão é muito pobre, pois ressalta um
conceito indigno da pessoa de Deus. Esse conceito se baseia numa falsa
concepção de paternidade que se aproxima muito do paternalismo tão bem
conhecido em nossa sociedade brasileira.
Infelizmente vivemos numa sociedade que foi
construída com a visão de família muito fragmentada, de modo que esses
conceitos influenciam a relação pessoal com Deus. No início da
colonização não havia mulheres europeias por aqui e uma das soluções foi a
de juntar-se às índias. Observemos que a ideia de juntar-se numa relação sem
formalismos não é de hoje. Aliás, muitas índias se entregavam aos brancos, pois
os índios consideravam normal a poligamia. Os tupis, por exemplo, tinham o
hábito de oferecer uma mulher a todo o estranho que fosse viver entre eles.
Homens como o aventureiro e explorador português João Ramalho (1493-1580)
adotaram muitos dos seus usos e costumes. As crianças nascidas desses
amancebamentos eram chamadas curibocas, na língua tupi. Para os brancos, eram
mamelucos.
O interessante é como esses conceitos se
perpetuaram sem que houvesse um questionamento. Os portugueses que aqui
chegaram rapidamente se adaptaram ao estilo indígena. Um homem desejando casar,
perguntava a mulher e se a resposta fosse positiva, ao homem bastava pedir
permissão ao pai ou a um parente mais próximo. Dada a permissão os “noivos” já
se consideravam “casados”. Não havia cerimônias e se ficassem fartos do
convívio, consideravam a relação desfeita, e ambos podiam buscar novos
parceiros. Além disso, entre os índios havia uma grande liberdade sexual antes
do casamento e as moças podiam ter relações com índios ou europeus, e isso não
era visto como desonra. Quando as mulheres africanas chegaram aqui essa visão
se expandiu. Os portugueses já estavam familiarizados com elas desde o século
XV. Portanto, muitos deles acabaram se amancebando ou casando com muitas delas
e surgiram assim as famílias mestiças e mulatas. O casamento oficial não era
cogitado nestes casos e o normal era que as pessoas começavam a morar juntos e
ter filhos.
Qual o conceito de pai que nossa cultura
desenvolveu? Diante desse quadro histórico fragmentado não é de ficar admirado
que muitos homens não tenham agido no passado como verdadeiros pais, que essa
concepção errada de ser pai tenha se transmitido por tantas gerações e assim
muitas pessoas tenham uma enorme desconfiança da paternidade Divina. Talvez
alguém pense que essa análise seja meio forçada, mas se pensarmos com mais
atenção, a cultura se perpetua, muitas vezes de maneira inconsciente.
O Evangelho é a contracultura e um dos aspectos da
pregação de Cristo é a mudança dos paradigmas e dos conceitos, substituindo-os
pelo padrão Divino. E qual é o padrão Divino? Para Deus, família é algo sério,
formado por um homem e uma mulher numa relação alicerçada no amor, no respeito
e na mutualidade (Gênesis 2:24; Malaquias 2:4). Aos homens cabe a
responsabilidade da liderança de sua família, pautando-se no amor incondicional
por sua esposa (Efésios 5:25), vivendo com discernimento e compreendendo a
fragilidade delas (1Pedro 3:7), educando seus filhos no temor do SENHOR
(Deuteronômio 6:4-13; Efésios 6:4; Colossenses 3:21). Às mulheres são chamadas
a serem auxiliadoras fiéis de seus maridos (Gênesis 2:18), cuidando bem de seu
lar (Provérbios 31:27), sendo submissas aos seus maridos como a Cristo (Efésios
5:22; 1Pedro 3:1).
Qual o problema? Na nossa cultura os valores do
Reino sobre a família são desprezados, inclusive pelos crentes, que muitas
vezes preferem seguir um padrão familiar ou uma tradição. E assim, as pessoas
querem ter um pai que faça tudo e não cobre nada. Muitos veem com raiva e pavor
os conceitos do pai bíblico: “Corrige
teu filho, e ele te dará descanso, sim, ele agradará teu coração” (Provérbios 29:17).
Por isso muitos querem ver Deus como um pai
indulgente, condescendente no exercício de Sua autoridade. Mas isso não ser
pai; é querer um paternalismo Divino que só dá coisas e não exige nada. No
entanto, Deus diz claramente: “Meu
filho, não rejeites a disciplina do SENHOR, nem te canses da sua repreensão;
porque o SENHOR repreende a quem ama, assim como o pai repreende o filho a quem
quer bem”
(Provérbios 3:11,12). O Escritor aos Hebreus tomando por base Provérbios
acrescenta: “É visando
à disciplina que perseverais. Deus vos trata como filhos. Pois qual é o filho a
quem o pai não disciplina? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm
tornado participantes, então, não sois filhos, mas filhos ilegítimos” (Hebreus 12:7,8).
Qual o filho que o pai não disciplina? Ser pai é uma
tarefa difícil, árdua, solitária e incrivelmente prazerosa se ela for
vivenciada nos princípios divinos. Os pais que não amam seus filhos não se
importam com disciplina, não sofrem com a tarefa de orientar, educar e
corrigir. Mas os que amam seus filhos – assim como Deus ama os Seus – vão se
esforçar todos os dias num padrão que estará acima daquele que a cultura e a
mídia determinam. Um pai que deseja ser como o Pai celestial não medirá
esforços em educar seus filhos no caminho correto, mesmo que isso lhe faça
chorar. Um pai segundo Deus tem essa verdade acima da cultura: “Saberás no coração que o SENHOR, teu Deus, te
corrige, assim como um homem corrige o filho” (Deuteronômio 8:5).
A todos os pais que lutam em ser melhores, Feliz
Dia dos Pais.
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