Pr. Gilson Souto Maior Jr
Pastor da Igreja Batista do Estoril
Bauru-SP
Hoje, 7 de setembro de 2014, o nosso
país comemora sei 192º ano da independência política de Portugal. Sabemos,
entretanto, que a história é bem diferente do que gostaríamos de pensar, pois
se olharmos a história não vemos nada glamouroso nela. Nossa independência foi
comprada enquanto todos os países da América Latina lutaram contra a metrópole;
fomos o último país das Américas a abolir a escravidão, o único a adotar o
sistema monarquista e quando veio à República somente os militares estavam à
frente do processo. Nesses quase duzentos anos tivemos dois imperadores (Pedro
I e Pedro II), um período de regência (1831-1840), trinta e cinco presidentes
(9 militares e 23 civis), duas juntas militares, dois golpes e sete
constituições.
Numa visão ainda mais crítica não temos
muito do que nos orgulhar. No Índice de Progresso Social (IPS) o Brasil é o 46º
entre 132 países. Na educação, segundo a UNESCO (2012), 8,7% da nossa população
é analfabeta. De acordo com o PNAD/IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), 18,3% dos brasileiros são considerados como analfabetos
funcionais. No ranking da educação estamos entre os cinco
piores, mais precisamente em 38º lugar.
Quanto à segurança e a violência temos
que amargar, segundo o Mapa da Violência, pois somos o 7º país mais violento do
mundo. Em 2012 o país chegou a 152 assassinatos por dia ou 56 mil por ano. Isso
significa 1,4 massacres do Carandiru por dia. As vítimas em sua maioria são
homens (11 vezes maior que das mulheres), jovens (30 mil em 2012) entre 20 a 24
anos. Depois do homicídio, o que mais mata em nosso país é o trânsito com, o
quarto mais violento do mundo, com uma projeção de mais de 48 mil mortes para
2014; e depois tivemos um crescimento de 33% nos suicídios em dez anos.
E olha que não falamos de outras
coisas. Vivemos uma epidemia de dengue, caos na saúde, falta de remédios,
médicos sobrecarregados, hospitais sucateados, gente morrendo aos milhares,
universidades sucateadas, escolas abandonadas, aposentados cada vez ganhando
menos e milhões de pessoas endividadas com uma economia parada. Em outras
palavras, estamos no meio de um furacão e não temos luz no fim do túnel.
O que nós como cristãos precisamos
fazer? Devemos seguir a orientação de Deus aos exilados em Babilônia: “Empenhai-vos
pela prosperidade da cidade, para onde vos exilei, e orai ao SENHOR em favor
dela; porque a prosperidade dela será a vossa prosperidade. Pois assim diz o
SENHOR dos Exércitos, o Deus de Israel: Não vos deixeis enganar pelos profetas
e adivinhos que vivem entre vós, nem deis ouvidos aos sonhos que eles sonham
por vós” (Jeremias 29:7,8). O que Deus queria dizer com isso?
Em 597 a.C. O rei Joaquim e sua corte
foram exilados para Babilônia com o que havia de melhor em Judá, entre eles os
profetas Ezequiel e Daniel. Nabucodonosor II havia deixado um rei-fantoche no
lugar (Zedequias) e esperava com isso cessar toda e qualquer rebeldia dos
judeus. No entanto, muitos judeus escreviam aos exilados que os profetas
estavam pregando a libertação e a destruição de Babilônia, com o retorno do rei
para Jerusalém. O que poucos acreditavam é que aqueles profetas eram falsos e a
mensagem deles era pura fantasia, de modo que Deus ordena a Jeremias a escrever
uma carta aos exilados para que eles orassem pela Babilônia e trabalhassem para
o bem daquele lugar.
Talvez nós olhemos tudo ao nosso redor
e pensemos: “Como vou orar por isso aqui? Somente com a Vinda de Cristo isso
aqui vai tomar jeito”. De fato, Cristo colocará tudo no lugar, mas enquanto Ele
não vem e o tempo de Deus não se concretiza precisamos pensar o que nós, como
filhos do Reino, podemos fazer nessa nação que Deus permitiu que nascêssemos?
Como podemos brilhar como luz nas trevas que cercam o Brasil?
Primeiro, temos que nos lembrar de que
toda essa distorção que existe em nosso país é fruto do pecado na raça humana.
Imoralidades, corrupção, pobreza, miséria, engano, violência e tantas outras
coisas nada mais são que o reflexo do pecado na sociedade. Não podemos olhar
essas coisas como apenas distorções socioeconômicas, pois na verdade a
distorção está no coração humano. Para isso, precisamos orar pelo Brasil e
rogar a misericórdia de Deus.
Em segundo lugar, precisamos agir como
cidadãos responsáveis e assumir a postura cristã, não aceitando os vícios de
nossa cultura, mas exercendo a contracultura cristã na nossa sociedade. O fato
de o Brasil ser conhecido como o país do “jeitinho”, da ética frouxa e
conveniente, não pode ser usada como desculpa pelo povo de Deus. Precisamos ter
cuidado para não cair na lábia dos “falsos-profetas” que tentam passar sonhos e
ilusões em detrimento do compromisso real que precisamos ter com Cristo e Sua
vontade.
E finalmente, devemos ser agentes da
paz bendita. No hebraico temos o vocábulo shalom, “paz,
prosperidade, bem-estar”. Nossa presença precisa ser de paz e harmonia em nossa
sociedade. Isso não significa dizer que aceitaremos tudo, mas “[...] no
que depender de vós, vivei em paz com todos os homens” (Romanos 12:18). Às
vezes nossas posições não serão aceitas e trarão a oposição de muitos;
entretanto, agiremos sempre em favor do bem-estar da sociedade, seguindo os
valores de Deus para que as pessoas vejam em nossas atitudes coerência e
verdade.
Que desafio é viver num país tão
desigual e injusto! Mas foi nessa terra que Deus nos colocou para que em nossa
peregrinação até à pátria celestial possamos deixar um legado para a
eternidade. Aqui nessa linda e amada terra ainda há muita gente que precisa ser
alcançada; oremos e trabalhemos pelo bem-estar de nosso querido Brasil.