Pastor Gilson Souto Maior Jr - Igreja Batista do Estoril - Bauru-SP |
Fidelidade...
Eis uma palavra mal compreendida em sua extensão e aplicação. Quando citamos
essa virtude, em geral, as pessoas a relacionam ao casamento e a atitude que se
espera dos cônjuges. Boa parte das pessoas também compreende essa palavra à luz
de uma visão econômica, pois o cartão fidelidade da farmácia, de uma
determinada loja ou rede de supermercados garante descontos e vantagens.
Entretanto,
quando olhamos a Escritura vemos a verdadeira compreensão a ser destacada dessa
virtude. Ela tem a ver com o caráter de Deus e de Sua pessoa. O apóstolo Paulo
escrevendo aos romanos contrasta a fidelidade de Deus e a inconstância humana:
“E então? Se alguns foram infiéis, a infidelidade deles anulará a fidelidade
de Deus? De modo nenhum! Seja Deus verdadeiro, e todo homem, mentiroso [...]”
(Romanos 3:3,4a). A nossa infidelidade não mudará quem Deus é, pois Ele jamais
muda ou deixa de ser quem é. Sua fidelidade é a nossa segurança, pois
certamente cumprirá tudo o que disse que irá fazer.
Como
servos do Deus Fiel somos chamados a assumir essa postura em nossa vida; o
caráter cristão traz a fidelidade de Cristo (Gálatas 5:22). A fidelidade como
uma das características do fruto do Espírito significa que o cristão é alguém
totalmente confiável e que tem uma palavra digna de confiança. A visão é ainda
mais ampla, pois implica numa pessoa em cujo serviço fiel nós podemos confiar.
Como disse Barclay: “Descreve o homem com fidelidade inflexível de Jesus Cristo
e a total fidedignidade de Deus” (1985, p.105).
Em
Apocalipse vemos Jesus elogiar a igreja de Pérgamo: “Sei onde habitas, onde
está o trono de Satanás, mas conservas o meu nome e não negaste a minha fé,
mesmo nos dias de Antipas, minha fiel testemunha, que foi morto entre vós, onde
Satanás habita” (Apocalipse 2:13). A alusão ao trono de Satanás pode ser
uma indicação ao culto de Zeus que era realizado num gigantesco altar que
ficava a 240 metros acima do nível da cidade. Certamente não era fácil para os
cristãos de Pérgamo habitar ali e testemunhar de sua fé. Mas Jesus destaca a
coragem daqueles crentes, especialmente a atitude de Antipas.
Nada se
sabe ao certo acerca deste personagem. É bem possível que ele era o líder ou
pastor da igreja em Pérgamo, sendo um dos mártires das perseguições romanas.
Simeão Metafrastes contava uma história lendária de certo Antipas, bispo de
Pérgamo, que nos tempos do imperador Domiciano, foi fechado dentro de um boi de
bronze aquecido no fogo. Seu corpo foi literalmente cozido. Diz-se que ele
terminou sua vida em louvor e oração. Talvez esta história tenha base em fatos
autênticos. O que vai chamar a nossa atenção é que Antipas, por causa de sua
fidelidade a Cristo, recebeu o mesmo título do Senhor Jesus, “fiel
testemunha” (cf. Ap.1:5). Antipas foi a fiel testemunha da Grande
Testemunha, e selou seu testemunho com sangue.
A grande
questão que fica evidente ao pensarmos na cristandade pós-moderna é a seguinte:
Será que hoje os cristãos – ou pelo menos aqueles que assim professam – são
capazes de levar a vida cristã nesse nível de fidelidade? Será que estão
dispostos de viver e morrer pela verdade do Evangelho de Cristo? Infelizmente a
fidelidade de muitos crentes é semelhante à fidelidade partidária de certos
políticos em nossa nação. Os políticos são fiéis enquanto a legenda se alinha
aos seus interesses pessoais. Mas eles podem ser de esquerda hoje e amanhã de
direita e no futuro de centro, pois na verdade suas posições mudam ao sabor do
vento e das possibilidades de vantagem.
Muitos
crentes também são assim. Hoje são batistas, amanhã se tornam pentecostais e no
futuro podem ser neopentecostais. Comprometem-se diante da igreja em serem
membros exemplares, mas depois jogam suas palavras no lixo e atribuem a Deus a
mudança de igreja ou de visão doutrinária. O que importa não são convicções,
mas arrepios e as experiências pessoais. Às vezes – e lamentavelmente isso não
é incomum – muitos trocam as convicções pelo sucesso e buscam na religião o
trampolim para ascender socialmente.
Fidelidade
tem a ver com uma postura semelhante à de Cristo. Assim como Ele foi fiel na
Sua missão, somos chamados a seguir Seus passos: “Quem é, pois, o servo fiel
e prudente, que o senhor encarregou dos outros servos para lhes dar o alimento
no tempo certo? Bem-aventurado o servo a quem seu senhor, quando vier,
encontrar agindo assim” (Mateus 24:45,46). Será que Ele encontrará servos
fiéis quando vier em glória? Ou encontrará igrejas cheias de meros frequentadores
que em nada serão melhores que aqueles que assistem às partidas de futebol num
estádio?
Paulo
disse aos coríntios: “Fiel é Deus, por quem fostes chamados para a comunhão
de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Coríntios 1:9). O Fiel nos chama
à comunhão de Seu Filho, pois podemos confiar Nele plenamente. É o Senhor que
não permitirá que sejamos tentados além de nossa capacidade (1Coríntios 10:13);
Ele é verdadeiro em tudo o que faz (2Coríntios 1:19) e cumprirá Sua promessa e
obra em nossa vida (1Tessalonicenses 5:24). É Deus quem nos confirma e nos
livra do maligno (2Tessalonicenses 3:3), permanecendo sempre fiel, apesar de
nossa incredulidade (2Tessalonicenses 3:13).
Será que
existe alguma dúvida diante disso tudo? Espero que de hoje em diante a fidelidade seja
vista por você como um aspecto de uma vida transformada, da ação miraculosa e
graciosa da graça de Deus em nós. Somente Ele pode nos tornar de infiéis em
fiéis, à semelhança de Seu Filho.
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