29 de julho de 2014

Imitadores de DEUS

Qual o maior prazer de um pai ao ver seu filho? Como pai de três meninos sinto-me com a enorme responsabilidade de ser um exemplo para a vida deles. Minha alegria é quando os vejo agindo de acordo com a Palavra de Deus. Mas o que alegra, e ao mesmo tempo acende um alerta em meu coração, é quando eles imitam minhas ações; alegria quando é algo bom, alerta quando é algo ruim. Querendo ou não meu exemplo pode influenciar positiva ou negativamente meus filhos.
Pr. Gilson Jr. - Igreja Batista do Estoril - Bauru-SP
O apóstolo Paulo escrevendo aos efésios diz: “Portanto, sede imitadores de Deus, como filhos amados” (Efésios 5:1). Alguém poderia questionar essa palavra e dizer: “Como podemos imitar a Deus? O que Paulo quis dizer com isso?”. É interessante notar que o apóstolo usa o vocábulo mimêtai, do qual deriva a palavra mimetismo em português. Aqui o vocábulo diz que devemos literalmente imitar a Deus, pois o verbo (mimêtês) significa estritamente “tornar-se”.
Mas alguém poderia ainda me questionar: “Mas em português mimetismo aponta a imitação como uma adaptação da realidade. Não seria isso algo falso?”. Ainda outros poderiam questionar da seguinte forma: “Será que Paulo está sugerindo que nós devemos nos tornar como Deus, assumindo um caráter “divino em menor grau”?”. Bem, respondemos assim as duas perguntas.
Paulo não está sugerindo uma simples imitação como adaptação da realidade, como se colocássemos uma máscara e vivêssemos como um personagem. Também o apóstolo não está dizendo que devemos ser “pequenos deuses”, pois a Escritura é muito clara: “[...] Não darei a minha glória a outro [...]” (Isaías 42:8). A visão é clara, pois aqueles que foram alcançados pela graça de Deus foram feitos filhos de Deus pela mesma graça (cf. João 1:12). Ora, se foram tornados filhos, qual o desejo do Pai senão que esses filhos sigam Seu exemplo e vivam como Ele?
No texto original não há divisão entre capítulos e versículos, de modo que a afirmação paulina se baseia num argumento já explanado pelo apóstolo antes. No final do capítulo 4 Paulo explana que não devemos viver como vivem os gentios “[...] em pensamentos fúteis, obscurecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância e dureza do coração” (4:17b,18). Esse estilo de vida é marcado pela insensibilidade, depravação e impureza (4:19) e não reflete o que aprendemos de Cristo (4:20). Paulo ainda argumenta que, se eles foram de fato ensinados a seguir a Cristo (4:21), sabem que foram chamados a se despir da velha natureza (4:22), sendo renovados mente (4:23) e se revestindo da nova natureza “[...] criado segundo Deus em verdadeira justiça e santidade” (4:24). Essa nova natureza significa abandonar a mentira e falar a verdade (4:25), não deixar  ser dominado pela ira (4:26), não dar lugar ao Diabo (4:27), deixar de roubar para trabalhar arduamente e compartilhar com outros a bênção (4:28), ter uma linguagem sadia e edificante (4:29), não entristecer o Espírito Santo (4:30), eliminar do coração sentimentos odiosos e amargos (4:31), mas ser bondoso, compassivo e perdoador, seguindo o exemplo de Deus em Cristo (4:32). É nesse contexto que Paulo nos diz: “Portanto, sede imitadores de Deus, como filhos amados”.
Mas vale salientar que essa explanação de Paulo nada mais é que aquilo que Cristo disse no Sermão do Monte: “Sede, pois, perfeitos, assim como perfeito é o vosso Pai celestial” (Mateus 5:48). E o que significa ser perfeito aqui na declaração de Jesus? Certamente não tem a ver com a ideia de perfeição do ponto de vista humano. No texto de Mateus temos o vocábuloteleios que significa completo. Ou seja, Jesus tinha em mente que o caráter de Deus deveria ser completo naqueles que dizem ser Seus filhos.
Por isso Paulo vai dizer logo em seguida: “e andai em amor como Cristo, que também nos amou e se entregou por nós a Deus como oferta e sacrifício com aroma suave” (Efésios 5:2). Isto é, ser um imitador de Deus é andar – no sentido de viver (peripatéô) – como Cristo, que é o verdadeiro modelo e guia. O diferencial entre viver como Cristo e seguir meramente uma religião é o amor. O amor a Deus e ao próximo torna-se a grande característica da vida diária cristã. Jesus Cristo viveu a nossa humanidade, sem pecado, e nos deu Seu exemplo do qual serve como cópia e exemplo a ser seguido.

Portanto, imitar a Deus não é fruto de um esforço humano que se pauta na única preocupação de seguir regras e normas para no final sentir-se consolado e feliz com a autojustificação. Esse é o objetivo da religião em si: buscar seguir regras que deem ao ser humano um motivo para se orgulhar. No entanto, essa é a diferença entre a religião humana e o cristianismo autêntico: o amor a Deus que nos faz viver para agradá-lO em todo tempo. E assim, como filhos que olham com admiração e amor ao pai, e desejam imitá-lo, da mesma forma somos chamados a olhar para o alto (Colossenses 3:1-3) e contemplar o Pai em admiração, temor e amor, vendo Cristo à Sua direita e tendo Nele o objetivo de nossa vida: andar como Cristo andou para ser imitadores de Deus.

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